sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Cinemagic, Sound of Music & Salzburg


Cinemagic: uma das muitas coisas que vou sentir falta quando não mais viver no Kuwait...

O Cinemagic é basicamente um cinema à céu aberto no Kuwait. Ele fica na laje de um centro comercial decadente que, por sorte, fica a minutos da minha casa. O setup é um pouco “patatero”, o local é bastante improvisado mas é muito cool  e cheio de Umami.

Parece que  uma produtora-escola caseira, conseguiu o equipamento de projeção, e deve haver “arranjado” um acordo ao melhor estilo Kuwaiti para passar sessões de filmes no teto desse centro comercial. Você paga R$5 (há pouco era gratuito) e pode assistir o filme com direito a pipoca, refrigerante, café e chá (o vinho e o prosecco ainda estão em fase de “desembaraço”).

Além da originalidade da idéia, do ambiente acolhedor e da informalidade na execução (coisas que deixam saudades na vida das grandes metrópoles) o repertório é de filmes e cinema de verdade e não de show pirotécnico de tecnologia. Já vi de tudo lá, filme russo, tcheco, espanhol, italiano, coreano, americano bom e até “Central do Brasil” já fez sua aparição por lá.

Ontem fui sozinho assistir “Sound of Music” (eu sei, eu sei, imperdoável não haver assistido até hoje!). A noite estava (atipicamente) fria; o céu estava (atipicamente) estrelado. Estava tão frio e eu tão despreparado que antes de começar o filme eu pensei: “será mesmo que eu vou enfrentar 3 horas de um musical de 1965 sentado aqui como um pingüim?”

“Sound of Music” é um musical quase infantil sobre uma mulher austríaca que deixa de ser freira em um convento em Salzburg e passa a ser governanta na casa de um capitão Naval viúvo com sete filhos. O filme começa produzindo mixed feelings como qualquer filme de décadas passadas. A imagem é um pouco como uma calça jeans lavada. A câmera vai varrendo os Alpes com algum tremor que só pode se esperar de uma filmagem antiga. As primeiras músicas requerem alguma ambientação e digestão inicial.

Mas aí a encantadora Julie Andrews (Maria), que impressiona pela doçura e naturalidade que transmite durante toda a atuação vai sorrateiramente te envolvendo. Sua naturalidade é tamanha, que na cena que ela rejeita ser chamada por um apito, ela consegue arrancar feições de desgosto do espectador. E com seu encanto, música após música as 3 horas começam a voar no relógio.

Obviamente, o ponto máximo é quando Maria canta Dó-Ré-Mi. Algo mágico acontecia com o platéia nesse momento. Primeiro, de golpe, fiquei tomado por uma inesperada emoção que fez meus olhos ficaram molhados. Escuto um suspiro e percebo que a mulher ao meu lado já estava em um estágio mais avançado de choro. Ainda emocionado, passo os olhos ao redor e percebo às pessoas em um misto de lágrimas e sorrisos, cabeças balançando, e pés “bailando” na batida da música. Por um segundo olho para o céu estrelado e volto para o filme pensando: Que bonito! Esse é um daqueles soborosos mistérios da arte...

A seguir, Christopher Plummer dá uma guinada de 180 graus no personagem, e passa de capitão durão a um personagem sensível em uma brilhante atuação ao lado de Maria.
Infelizmente o final não é bom. Os últimos 30 minutos sofrem da mesma doença de outros filmes de pós-guerra que trocam a poesia por engajamentos anti-militares. Mesmo assim não chega em absoluto a comprometer o valor do filme.

Adorei. Eu recomendo com as ressalvas naturais de que é um musical (do tipo ame-o ou deixe-o), é um filme de 65 e demanda boas 3 horas. Não é para todo mundo... Como eu particularmente gosto de musical foi prato cheio.



Outro plus é que a história se passa em Salzburg. Estive em Salzburg no começo do ano em uma viagem que incluiu Rotenburg, Munique, Salzburg, Cezky Krumlov e Praga.

Salzburg é um bom-bom de cidade. Pequena, medieval, organizada, calma, romântica. Gostei do povo austríaco. Guardam um pouco da organização do alemão mas adicionam bastante flexibilidade e educação são sempre muito polidos, reservados e agradáveis. Acabei ficando 3 dias inteiros e não poderia ficar mais. Não uma surpresa, a cidade respira música clássica e Mozart e “Sound of Music” are everywhere e continuam presentes a cada esquina de Salzburg.

Mandatório ficar no hotel “Goldener Hirsch”, que corre o risco de ser o melhor hotel butique que já me hospedei. O hotel tem tudo a ver com Salzburg no inverno e a hospitalidade austríaca do staff é impecável. Apesar do café-da-manhã do hotel ser excelente, não dá para evitar o breakfast menu no café-restaurante em frente ao hotel (que eu não lembro o nome). O lugar é modernex-austríaco, com dois andares , e tem um café-da-manhã imperdível.

Os jantares com concertos são um pelim turísticos mais na minha opinião valem muito a pena (um pouco como o Señor Tango em Buenos Aires).

Foi uma pena não haver assistido “Sound of Music” antes de ir a Salzburg, mas pelo menos teve o benefício reverso de fazer o filme mais próximo e familiar.

Enfim, foi uma noite cheia de Umami no desértico e árido Kuwait...



quinta-feira, 25 de novembro de 2010

O sorriso Thai

Uma coisa me chama a atenção no Kuwait: as crianças não sorriem. Nem mesmo os bebês sorriem! Sabe aquele sorriso casual e espontâneo dos bebes e das crianças, quando alguém sorri para eles ou faz alguma bobagem? Então, esse sorriso não existe no Kuwait.

Essa semana estive pela quinta vez na Tailândia. A Tailândia é um pais que me encanta....é um país mágico. De certa maneira, a Tailândia me lembra em muitas coisas o Brasil...uma espécie de Brasil sem algumas partes "menos boas", como: problemas de segurança, levar vantagem e outras. Mas é inegável que existem muitas similaridades: clima tropical, praias exuberantes, frutas exóticas, povo relaxado e feliz. Até Bangkok se parece a uma espécie de São Paulo. Inclusive o caminho para a praia remete surpreendentemente ao look and feel da Pedro Taxi.

Mas há algo único e especial na Tailândia: o sorriso Thai. Talvez a mais marcante "impressão digital" e expressão desse povo.

É curioso como um autêntico sorriso anda escasso nos dias de hoje... Não é que não existam sorrisos. Temos muitos sorrisos: o sorriso profissional (de recepcionista de hotel londrino), o sorriso político, o sorriso de vendedor, o sorriso do comediante, o sorriso de nervoso, o sorriso feakout, o sorriso para ver e ser visto, o sorriso para “mostrar que sou bacana”, o sorriso embriagado dos botecos. Temos até o falso sorriso para os inimigos. Mas que pouquinho sorriso com profundidade...

O sorriso Thai é autêntico, genuíno, espontâneo, “de verdade”. Um sorriso que vem de dentro da alma. Um sorriso que emana paz e equilíbrio. Um sorriso de entrega. Um sorriso de celebração à vida!!! Um sorriso de gratidão. O sorriso Thai alegra quem o recebe, mas o tailandês sabe que mais beneficia quem o oferece. O sorriso Thai nos recorda que o segredo da vida encontra-se nas coisas mais simples. É um sorriso que quase fala... como se dissesse: “Que gostoso poder te encontrar aqui e agora. Obrigado pela oportunidade de trocar um sorriso com você.”

O sorriso Thai parece aquele sorriso que escapa espontaneamente quando encontramos um bebê de um amigo. Ou quando ajudamos um idoso na rua. É um sorriso que afaga o coração. Que pega nosso coração, e o coloca a repousar em um berço com um cobertor bem quentinho e um travesseiro confortável. É isso, o sorriso Thai é um chamego no coração.

E que bem faz esse sorrir. Todos os dias pela manhã, eu saía para correr em uma pacata zona da cidade de Hua Hin. Como de costume, me preparava para suportar mentalmente os 10, 12 até 15km que pretendia cobrir debaixo do sol de 40C. Preparava o GPS, o iPod com música brasileira, "toquinha anti-suor" e começava o percurso. Mas logo nos primeiros passos, ao cruzar com o primeiro Thai, este, me olharia profunda e carinhosamente nos olhos e abriria o autêntico e verdadeiro sorriso Thai. Isso aconteceria no primeiro minuto; no segundo; no terceiro; e seguiria minuto a minuto durante todo o percurso. Até os estrangeiros que vivem aí também já internalizaram esse sorriso mágico.

O conforto desse sorriso, fazia com que eu recebesse uma espécie de boost de energia e prazer para continuar correndo no meu ritmo. Era como se pudesse acelerar mais a cada passada. E de sorriso em sorriso, o trajeto passava sem que eu quase o sentisse... Não sentia o esforço físico, mas sim, sentia no coração uma mistura de alegria e nostalgia. Nostalgia de viver em uma sociedade mais feliz, menos plástica e artificial, mais de verdade, mais pé-no-chão e voltada ao que deveria ser mais prioritário na vida.

Por traz do marcante sorriso Thai, existe uma sociedade que cultiva uma cultura saudável. Uma sociedade que acima de tudo busca o equilíbrio. Equilíbrio em todas as esferas: física, mental, espiritual e social. Uma cultura que ainda consegue ficar consideravelmente imune à programação que nos é imposta no ocidente e que foca no equilíbrio através da meditação, saúde física, alimentação saudável, consciência e responsabilidade na qualidade dos atos de cada individuo e na coletividade sem negligenciar a individualidade.

Agora estou no avião. Deixo a Tailândia feliz, cheio de vitalidade, paz e contagiado pelo calor do seu sorriso.

A Tailândia é um encanto de país. Certamente não será a última, das muitas visitas futuras que pretendo fazer a esse país. Nem que for para sentir o conforto e a paz desse sorriso.

Um sorriso cheio de Umami para você. Tenha um excelente dia!

Sawadee krap

sábado, 16 de outubro de 2010

Música: When did you leave Heaven (Lisa Ekdahl)

Lisa Ekdahl!

Enquanto vou cozinhando o próximo Umami reflexivo (acho que ainda vai me levar um tempinho, mas “tá ficando com boa pinta”), aproveito para fechar o Triunvirato do meu atual playlist matinal.

A pitada de Lisa Ekdahl mesclou bem com o que já estava lá de Norah Jones e Carla Bruni.

Apesar da maioria do seu repertório estar em sueco (confesso que ainda precisaria digerir um pouco mais o efeito do “rrrrrrrrr” ), são suas canções em inglês que realmente me agradam.

“When did you leave Heaven” é uma das favoritas, apesar de uma vez mais a disputa ser acirradíssima.

O clip também é bem característico e remonta ao obscuro e branco-e-preto dos filmes suecos.

Bom, está desvelado o terceiro ingrediente dessa deliciosa paella musical.

E, como o ambiente anda propício às misturas, encerro mesclando uma frase que apesar de não ter nada a ver com o post, eu lí hoje pela manhã e achei muito intrigante (e verdadeira):

“Somos o que fazemos, não o que pensamos nem o que sentimos.”

Food for thought...

(Atualizado em 18-10-2010)

Escutando o playlist hoje pela manhã, achei injusto não incluir também it's oh so quite. É muito difícil nomear qual é a melhor entre as duas.




sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Filme: Kamchatka (2002)

Kamtchaka (2002)

Direção: Marcelo Piñeyro

Umamis: 8

Talvez, o que menos importe em Kamtchaka é a história (ainda que também muito sólida). Kamtchaka é um filme de sensações, de olhares de toques e de silêncios...

Primeiro, como contexto, Kamtchaka é uma península na parte mais à leste da Rússia. O filme conta a história de uma família perseguida durante a ditadura militar nos anos 70.

Com Ricardo Darín (o mesmo do excepcional “El Secreto de sus Ojos” e de “Nueve Reinas”), Kamtchaka é um filme simples e sensível, que me tocou principalmente por pintar também os valores de família independentemente das condições externas e adversas.

O filme ressalta a importância da personalidade dos indivíduos que formam uma família, composta de membros fortes, questionadores e altruístas. Como reagir e que responder quando os filhos fazem perguntas difíceis; como não perder nenhuma oportunidade para passar valores e carinho; como compreender as atitudes de cada um mesmo que distintas do que se esperava ou se gostaria.

O segredo de Kamtchaka está nos detalhes. Nos apelidos que se chamam entre eles. Em como a mãe acaricia o filho pressionando dedo dela pela sua sobrancelha. Como os dedos se tocam quando estão deitados na cama juntos. Os sorrisos “marotos” que brotam espontaneamente (e que carregam o espectador junto) ao observar as novas descobertas dos filhos através de uma janela.

As tomadas de câmera são um espetáculo a parte (as aproximações, os angulo e as perspectivas). A atuação dos dois pequenos não é nada menor. Por último, é um daqueles filmes que vale a pena ficar estático olhando as letrinhas subirem no final e escutando a musica forte (a la Frida) de encerramento.

Uma delícia! Muito Umami.

Cada vez me encanto mais e mais com o cinema Argentino. Corre-se o risco de que se possa dizer que os brasileiros fazem a melhor música do mundo e que ironicamente, nossos vizinhos argentinos, os filmes.

Música: Quelqu'un m'a dit

Conforme prometido, segue mais uma candidata à campeã de +Umami do meu atual playlist matinal.

Às vezes, a música que nos introduz a um novo artista é a sua música mais popular. Porém, depois de conhecermos mais profundamente seu trabalho, terminamos por não achar a "tal" canção uma das melhores, chegando até a parecer a mais comercial.

Quelqu'un m'a dit foi a primeira música da Carla Bruni que escutei, e até hoje ela se mantém como uma das minhas prediletas.

No entanto, eu só conhecia a versão de estúdio. Buscando o vídeo no Youtube, encontrei essa versão pseudo-estúdio-modificada que está linda. A preparação inicial da Carla, nos instantes antes de começar a cantar também ficou bem natural.

Apesar da letra bonita, é a sonoridade que faz dessa música uma canção tão especial!

PS: Essa semana incluí mais um artista no Playlist Norah+Carla que achei que deu boa mistura. Fica o suspense para um blog futuro...



terça-feira, 12 de outubro de 2010

A maioria é sábia. Só que ela é a minoria…

Quando escrevi sobre “auto-enticidade”, me perguntaram se essa prática não poderia resultar em ostracismo e falta de diplomacia. Acredito que sim, o risco existe e é alto. O post de hoje trata de uma das maneiras de mitigar o risco de ostracismo. Em um futuro colocarei minha opinião sobre como minimizar o risco de falta de diplomacia.

Hoje eu vou falar sobre dois conceitos complementares: os “véus invisíveis”; e o seu antídoto: a “maioria das minorias”.

O conceito de “véus invisíveis” é bastante simples: são os abismos entre realidades. É um problema de freqüência. Um problema de sintonia.

Apesar das generalizações imperfeitas, é como tentar forçar a um “pagodeiro da gema” a gostar de Mozart. Ou justificar o preço elevado do jamón serrano ao comedor de x-miséria. Ou ainda, convencer o amante de “Spiderman” a apreciar “O Carteiro e o Poeta”. Ou o leitor de “Caras” a devorar “The economist”. (uma vez mais, são só exemplos pictóricos e ilustrativos...)

Não dá. Não é natural. É bola no quadrado.

Vivemos em um mundo coberto por véus. O maior elemento segregador de pessoas não é dinheiro, nem posição social, mas sim interno: “véus invisíveis” que produzem abismos entre realidades.

Quantas vezes não cruzamos com pessoas muito simples mas extremamente sutis, que lêem livros diferenciados, realizam trabalho voluntário ou apreciam arte e lugares não óbvios? E ao contrário, quantos não são os que possuem dinheiro e que estudaram nas melhores escolas, que viajam, mas são rasos, pobres de espírito e medíocres?

O problema é de freqüência. De sintonia. E a falta delas, cria abismos “quase intransponíveis” (mas não o são!).

Para ajudar a visualizar, vou dividir algumas paixões pessoais atuais mas que em algum lugar do passado não tiveram freqüência para serem apreciadas: clássicos antigos do cinema me davam sono; bossa nova me parecia decadente e música de velho; comida japonesa era (argh) intragável; fotografia era perder tempo da viagem; viajar para ver cidades antigas ou monumentos era desperdiçar oportunidade de relaxar em um resort de praia. E essas são apenas algumas poucas...

Lembro-me de quando comecei a trabalhar na tesouraria do Deutsche Bank. Meu primeiro almoço com os colegas foi em um japonês (e foi traumático). Que sofrimento. Meu rádio interno não conseguia sintonizar a freqüência do contexto em que aquelas pessoas viviam nem sobre o que elas conversavam. Pior ainda, a comida japonesa parecia um chiclete em minha boca...haviam muitos véus. Camadas e camadas de “véus invisíveis”.

Mas ainda que sofrida, aquela situação me tirava da zona de conforto puxando pelos cabelos...

A ameaça dos “véus invisíveis” recai sobre todos nós, e devemos sair da acomodação e da rotina, permanecendo em uma “luta” incessante (porém saudável e prazerosa) para combatê-los.

Mas, o que fazer para lutar contra os perigos dos abismos internos: os “véus invisíveis”? A resposta está no conceito de “maioria das minorias”. Uma atitude que requer coragem, vontade de arriscar-se e sair da zona de conforto.

Sempre tive problemas com conceitos como maioria, democracia e consenso. Acredito neles como princípio, mas para que na prática funcionem, necessitam de algumas condições de contorno. Acredito no princípio da democracia, mas na prática ele é falho, e uma prova dessa falha é que ela infelizmente é capaz de eleger o “Tirirca”. Assim, acredito em o que denomino "democracia qualificada" e um dia escreverei sobre isso.

Por hora, a verdade nua e crua (ainda que cruel) é que sim, penso que a maioria é “burra” e incapaz de saber o que é melhor para si mesma. Steve Jobs da Apple diz algo mais ou menos assim: “Não pergunte às pessoas o que elas querem. Elas não sabem. Mostre a elas o que elas precisam e elas naturalmente a desejarão.”

Mas se a maioria não é uma boa referencia como vetor para derrubar nossos “véus invisíveis”, como podemos sair do ostracismo e buscar parâmetros externos de qualidade?

A solução não está em desqualificar todos os inputs externos da maioria. Isso cria estagnação e apodrece; leva-nos ao ostracismo e é perigoso. O segredo está em escolher de qual maioria receber informação. Aí está a chave: filtrar e selecionar a fonte da referência.

Selecionar as referencias parece simples mas não é. Não se trata da “curtir” a parte boa e natural da relação com alguém que se admira. Trata-se da parte não compreendida, menos óbvia e que produz estranheza.

Quando alguém que admiro gosta de algo que eu não gosto ou não compreendo, guardo em alguma gaveta do neocortex. Pode ser que seja algo que eu realmente não goste e que não sirva para mim, mas fica lá guardado; talvez seja eu que não esteja preparado e não possua a freqüência adequada para entender e apreciar aquele sabor.

Acredito, que quando duas ou mais pessoas sábias, chagam a uma mesma conclusão através de caminhos independentes, essa conclusão tem maior probabilidade de ser uma Verdade.

Portanto, quando várias pessoas (maioria) das quais admiro (minoria) gostam da mesma coisa, a referência ganha outra dimensão. Fico excitado porque provavelmente acabo de descobrir um novo prazer ou sabor que previamente desconhecia.

Claro que o processo deve-se dar de uma forma natural e gradual. Não pode ser artificial. Porém abro as janelas de oportunidade para possivelmente derrubar minha resistência e inércia iniciais e compreender genuinamente essa nova freqüência. Definitivamente é um processo que nos sacode, nos empurra para fora da zona de conforto, mas produz recompensas prazerosas e desenvolvimentos estruturais.

Todo o conceito de “maioria das minorias” baseia-se na premissa de que as pessoas que nos produzem admiração merecem credibilidade. Mesmo que em um primeiro momento, não compreendamos ou até discordemos das referências transmitidas, respeitamos, absorvemos e meditamos sobre essas novas referências.

Portanto, seja criterioso e escolha bem suas fontes de referências. Saia do lugar comum e revisite quem são as pessoas que realmente admira e por quê. Não reaja com resistência quando elas dividirem algo estranho que você não entenda bem. Armazene e mature.

Arrisque-se. Ouse. Saia do ostracismo e da zona de conforto e descruba novos Umamis, derrubando os “véus invisíveis” através das “maioria das minorias” e de novas dimensões.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Música: What am I to you?

Durante essa semana, tenho ido trabalhar pela manhã escutando meu playlist de Norah Jones + Carla Bruni.

A competição pela melhor música do playlist é acirrada, e é impossível escolher uma campeã de Umamis.

Assim, vou colocar algumas das que eu mais gosto durante os próximos posts.

Tenho que confessar que quando começa a tocar, "What am I to you?" eu abro um sorriso no rosto.

Quando vi o post da minha amiga Vavá colocando essa música no FB, decidi pegar uma carona e começar por essa música.

A letra é ótima, mas a sonoridade é sublime...

Como é um vídeo oficial, não me permitiu colocar direto aqui no blog.

Mas click nesse link para ser redirecionado ao vídeo.

Ainda que na minha opinião a versão do estúdio seja imbatível, a versão ao vivo também é bem legal:





segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Itália: Trilhando o menos obvio...

Acabei de regressar da minha terceira viagem à Itália, mas a primeira em verdadeiro slow motion, perambulando pela “bota” por duas semanas e meia (o que também explica a completa estiagem de novos posts no +Umami).

Já é mais do que manjado, que a Itália abunda de paisagens espetaculares, gastronomia mediterrânea, estilo de vida europeu, história, clima agradável, pessoas bonitas, bla bla bla.... Mas o que faz dá Itália um lugar de Umami mesmo são nada menos do que “os próprios italianos”. Meus amigos sabem que nas minhas viagens coloco um peso desproporcional ao fator pessoas (já podem imaginar o que acontece na minha cartilha com Alemanha, Paris e Índia ...). O italiano é um bicho “bon vivant” que desfruta da vida, ri, canta, conversa, gesticula, fala alto, come bem, bebe vinho e acima de tudo não transparece um ar artificial, mecânico ou arrogante.

Assim, os 3 elementos maiores para descrever o que faz da Itália um lugar especial são o balanceamento perfeito de: estilo de vida europeu + gastronomia mediterrânea + “latinidade” do italiano (ou seja pessoas).

Tenho pensado um novo blog (mais técnico) focado em dicas “não-obvias” sobre países e cidades que visitei incluindo um ranking de lugares para visitar (com mais foco em “uniqueness”, gastronomia e pessoas, e menos em igrejas, compras e poluição turística). Um dia quando der vontade ponho no ar. Por enquanto faço um resuminho aqui no +Umami.

POSITANO: DIFÍCIL DE ENTENDER

Restaurantes turísticos com comida medíocre, infectado de americanos super awesome (é tão fácil vender sonho para americano que estão todas as divorciadas buscando o Marcello do “Under the Toscan Sun”), praia minúscula e de areia escura, preços nas alturas, hotéis velhos e cidade-penhasco difícil de caminhar. Tudo para ser um desastre! Mas não; Positano tem Umami. A vista de Positano é hipnótica e de efeito duradouro. Fica tatuada na mente. Quem já viajou comigo sabe que a agenda normalmente é pesada e requer endurance, mas Positano me freou e me encheu de paz. Matei vários passeios planejados para ficar apenas sentado na varanda do hotel lendo, escutando o mar, e levantando os olhos para ficar chocado com a imagem diante de mim.

Para ajudar (e muito) a driblar a mediocridade dos restaurantes turísticos (ex: Café Positano), Positano tem um restaurante maravilhoso: o Next2. Eu sei, eu sei..., o nome é muito infeliz; eu também quase não fui com um nome desses. Mas não se deixe abater pelo nome. Apesar de gostar muito das duas versões de comida italiana (cantina e contemporânea), sou um grande fã da contemporânea a la Gero. E o Next2, apesar de não ser um Gero, poderia tranquilamente ter uma estrelinha Michelin e ainda com um valor honesto. Com uma gastronomia simples mas meticulosa e ingredientes delicados, cultivados na horta familiar dos donos, o Next2 surpreende pela qualidade da comida e pela sua apresentação. Além disso, a massa vem “queimando” e ainda al dente; para mim a temperatura da massa é fundamental e queimando é o mais frio aceitável. O calamari fritti do restaurante Mediterrâneo (ao lado) também é bastante saboroso. De resto um mar de mediocridade. Recomendaram-me o Conca Del Sogno, Quattro Passi e Relais Blu que ficavam fora de Positano e necessitavam carro, mas eu não tinha a menor vontade de me movimentar muito.

BEM IMPORTANTE: A vista (leia-se: o hotel) é a chave em Positano. Não só o hotel, mas o quarto especificamente. Tem muito hotel sem vista, ou hotel bom com alguns quartos com vista e outros sem. Cuidado com os reviews de hotéis porque o quarto é a chave. Eu fiquei no Miramare e gostei bastante (quartos 205 ou 206). Andando por Positano, encontrei outras opções que parecem muito boas como o Marincanto (com infinity pool) e La Sirene. Cuidado com o #1 e #2 do Tripadvisor. O Palazzo Murat tem um jardim com restaurante muito agradável, está bem localizado na rua das lojinhas, mas peca na vista. O Bucca di Bacco tem o benefício de estar ao pé da praia mas também perde em vista. Prefiro os que estão um pouco mais afastados nas laterais mas com o foco em vista.

CINQUE TERRE: MIXED FEELINGS

Fiquei com mixed feelings sobre Cinque Terre.

Cinque Terre são cinco vilarejos de pescadores situados na Ligúria ao noroeste da Itália.

É certo, que na sua essência, Cinque Terre é charmoso. Os vilarejos são lindíssimos. Uma “Costinha” Amalfitana mais tropical. Há 10 anos atrás, antes de aumentar em popularidade no radar turístico, deveria guardar seu charme rústico. E até hoje é visualmente muito bonito e rústico.

No entanto, hoje em dia caiu no radar turístico e ... (já sabe)

Com isso, acho que Cinque Terre não fica nem lá nem cá. Por um lado não é um lugar genuinamente rústico e preservado do turismo, por outro, não apresenta os benefícios indiretos que o turismo traria na parte de conforto, gastronomia e hospedagem.

Resultado: Você sai com o “pior” dos dois mundos: difícil acesso, falta de infra-estrutura, mosquitos, gastronomia sem graça com preços altos, e poluição turística.

Sobre hospedagem 3 filosofias:

- Foco em infra-estrutura em detrimento de charme: La Spezia

- Foco no rústico sacrificando conforto: Vernazza ou Corniglia

- Meio-a-meio (mas sem espírito): Monterosso Al Mare

Fiquei em um “hotel” (mais bem uma mistura de casa, castelo e favela) em Vernazza chamado Marina Rooms. Bem simples, bem caro, sem ar condicionado, mas com uma terraça de pedra na beira do penhasco com o mar chocando nas pedras abaixo. Gostei com moderação...

Em resumo: valeu a visita. Nos momentos de maior isolamento (como passear a noite e o giro de barco pelas 5 cidades) dá para sacar o charme de Cinque Terre. Faria novamente: Sim. Retornaria? Não sei.

ROMA: MELHOR NA SEGUNDA VEZ

Gostei bem mais na segunda visita do que na primeira. Não vou “empilhar” palavras sobre Coliseu, Vaticano e outras obviedades. O que eu gostei mesmo foi da noite de Roma. Tive mais tempo de me jogar com calma pelas ruazinhas do Trastevere, e pela região que rodeia Piazza Navona e Campo di Fiori. Repleto de restaurantes e mesinhas ao ar livre, o ambiente é autêntico e descontraído. Com bons restaurantes, a grande recomendação foi dada por um amigo do Kuwait e se chama L’osteria De Memmo. Numa ruela minúscula próxima a Piazza Navona, com preço honesto, e comida fresca e excelente, o grande personagem é o fofucho Memmo. Um gordinho simpático, suado e sorridente, que gosta de comandar as mesas trazendo uma infinidade de entradas saborosíssimas como polvo, polpetone, muzzarela de búfala, prosciutto, fagioli, ... enfim uma orgia gastronômica, e é preciso cuidado: não cometa o erro de ficar sem “espaço” já nas entradas. Os pratos são ótimos. Foco em massa e mar. O Le Mani in Pasta no Trastevere também é muito bom.

Abaixo, mais algumas rapidinhas, que claro excluem o obvio “must to see” que os guias e o Google já cobrem mais que suficientemente.

DESTAQUES POSITIVOS:

Positano, Costa Amalfitana e Next 2: Comentado acima.

Roma (noite e restaurantes): Comentado acima.

Civita di Bagnoregio: Um bom-bom de cidade. Uma cidade medieval “morta” com 30 habitantes, perfeita para cenário de filme. Fica a minutos de Orvieto e a combinação das duas para um day-trip é uma excelente idéia.

Pompéia: Depois de ver tantas ruínas, tinha certeza que não iria gostar de mais nenhuma. Afinal de contas, anfiteatro, colunas dóricas, templos, fórum, mosaicos..., viu 3 viu todos. Mas Pompéia não é um sitio de ruínas normal. . Pensei que iria ficar 2-3 horas e acabei ficando 7. E o que Pompéia tem de diferente?

a) a) Real: em Pompéia você não precisa fazer malabarismos de esquizofrenia para tentar imaginar cidades e templos a partir de “cotocos”...A cidade esta lá e é enorme. Dá para sentir como era a vida a 2000 anos atrás.

b) Mosaicos: os mosaicos de Pompéia são alucinantes e as cores vívidas são difíceis de acreditar que sobreviveram ao tempo.

c) Plaster Casts: são os corpos de pessoas que foram surpreendidas com a erupção do Vesúvio a 2000 anos atrás. É muito impactante. Algumas parecem guardar eternamente a expressão de angústia.

Sobre o Vesúvio dá para ver de Pompéia. Não acho que vale a pena visitar o topo se estiver apertado de tempo (como diz um amigo: vulcão fora de erupção não passa de uma montanha famosa!)

Galleria Borghese: Que surpresa boa! Sei que é um pouco polêmico, mas gostei mais da Galeria Borghese do que o museu do Vaticano e da Galeria Uffizi. Com menos obras, menos turistas, muito bem organizada e mais acolhedora, possui três obras absolutamente espetaculares de Bernini: “David”, “Rape of Proserpine” e a incrível “Apollo and Daphne”. Além de estar situada na agradável Villa Borghese, excelente para “descompressurizar”...

Florença (Hotel Continentale e restaurantes): A verdade é que ao contrário de Roma, gostei bem mais de Florença na primeira visita do que na segunda. Essa vez achei muito turística e muito pequena. Mas Firenze é Firenze e é obrigatória pela história, arte e pela cidade. A surpresa dessa segunda vez ficou mesmo na recomendação de restaurantes que um amigo que morou lá me passou (3 dos melhores restaurantes das 3 viagens que fiz). São eles:

a) Osteria di Benci: A bisteca Fiorentina daqui é excelente. E olha que é difícil me surpreender na categoria carnes. Obrigatório.

b) Borgo Antico: Na Piazza di Santo Spirito, simplesmente o melhor “linguini al vongole” da minha vida.

c) Ristorante del Fagioli: Com ambiente de cantina mais autêntico, repleto de locais, e com uma bisteca Fiorentina quase tão excelente quanto da Osteria di Benci, o acampanhamento do Fagioli (feijão branco) fazem desse restaurante um lugar obrigatório.

Hotel: Adorei o hotel-butique chamado Continentale. Está ao pé da Ponte Vecchio. Na frente tem o Gallery Hotel Art que é do mesmo dono e é outra ótima opção.

San Gimigniano: Ainda que bastante turística, San Gigminiano é a cidade medieval mais legal que já visitei (na minha opininao bem mais legal que Siena). Realmente faz jus ao barato apelido de Manhattan Medieval. Não deixe de comprar (muito) prosciutto, queijo Pecorino, Salame trufado e “charcuteria” em geral no La Buca com o atencioso Maurito. O restaurante “Le Vecchie Mura” tem uma vista linda e um “gnocchi tartufo e formagio” muito bom.

DESTAQUES NEGATIVOS

Nápoles: Uma mistura de Bexiga, com José Paulino e Largo da Batata.

Sujo, caótico, e pobre. As pessoas carregam um semblante sofrido no rosto.
OK, acho que pode ser até interessante para quem morar e descobrir o circuito “mais in”, porém para visitar definitivamente questionável e primeiro da lista a ser cortado se a agenda estiver apertada. A única menção honrosa ficou mesmo para um pato dormindo “nos braços” de um cachorro no meio da rua...


Capri: Pagação. Apesar das belezas naturais que certamente são as responsáveis pela eventual fama da ilha (e realmente é bonita), Gucci, Chanel, Tiffany realmente “brocharam” Capri para mim. Essa misturinha de marcas luxuosas e natureza não funciona comigo e mais bem me dá bastante asco. Porém para quem gosta é prato cheio.

L’Olive: Único restaurante com estrela Michelin (tem duas) de Capri, é o pior restaurante com estrelas Michelin que já fui. Servem uma espécie de carne de lagarto sem sabor como as de festa de aniversário infantil. Apesar de apreciar bastante a “gastronomia experimental” a la “El Bulli”, as combinações exóticas que tentam fazer no L’Olive parecem mais uma aula de laboratório de química descuidada do que gastronomia. A freqüência então é assombrosa. Patético.

Portofino: Plástico. Fala sério, tanto zum zum zum para um lugar com prédios com paredes pintadas simulando pedras?!?!? O que que é isso?!?! Disneylândia italiana? E as hordas de anciãos saindo dos barcos que chegam de Santa Margherita que mais parece um Montevidéu?. Além de tudo, tem o mesmo problema de “Porto+Marcas” que Capri mas sem a mesma beleza natural. Pode até fazer sentido para quem chega de Iate de uma das mansões das cidades vizinhas, para almoçar com os amigos e comprar algo. Mas para visitar, absoluta perda de tempo. O pior lugar visitado das 3 viagens.

Galeria Uffizi: Um “sacro”! Eu tinha a expectativa bastante alta e apesar das realmente incríveis obras de Botticelli (O Nascimento de Venus e Primavera) quem me conhece sabe que igreja e santinho me dão sono. Vamos combinar, é muito santinho hein?. Santo do século XIV, do século XV, XVI, santo na madeira, santo preto-e-branco, tem santo para todos os gostos e sabores. Tem até aqueles santos um pouco assombrados que o Caravaggio gosta de pintar na escuridão e que de tão escuro quase não da para ver. Enfim, achei bagunçada e chata.

“Catacombes de Saint Calisto” em Roma: Achei que tinha ficado faltando na minha primeira visita à Roma e resolvi incluir dessa vez. Longe e desinteressante. Nada a ver com a cheia de personalidade e muito mais interessante “Catacombs de Paris”

Pisa: “Era uma vez uma torre branca e inclinada que todo mundo pára pra tirar foto de caminho a algum outro lugar próximo mais interessante ...” Se for passar, calcule uns 10 minutos de investimento de tempo...

NEUTRO

Cinque Terre: Talvez merecesse estar no positivo, mas fiquei com mixed feelings. Talvez dei azar. Comentado acima.

Orvieto: Bacana mas não obrigatório. Interessante mesmo foi ficar em um hotel eclesiástico B&B (ou auto intitulado “casa religiosa di ospitalita”) chamado Villa Mercede. O responsável é o padre Antonino que faz as vezes de recepcionista e reservas e concierge. Faz questão de dizer que não vai alterar os horários de seu dia a dia (como siesta e dormir cedo) por causa do maledeto hotel. Todo um personagem.

Veneza: Quase um destaque negativo, Veneza não me causa tic-tac. É como se fosse um Campos de Jordão com aguinha, em 1 minuto acabou a cidade. Com, muita poluição turística, Veneza é mais um tick-in-the-box.

Siena: Bem bacana mas também nada do outro mundo. Para quem passa por Florença, é um bom day-trip principalmente se combinado em 2 dias com San Gimignano.

Lucca: Charmosinho. Bem charmosinho. Fiquei pouco tempo de passagem para Cinque Terre mas vi potencial. Queria ter ficado um pouco mais. O restaurante Buca de Sant’Antonio é bastante bom.

FICOU FALTANDO...

Agriturismo na Toscana: Tem potencial para viagem de lua-de-mel. De caminho a San Gimigniano, vi várias pontos de agriturismo com paisagens paradisíacas. Vou querer voltar um dia para ficar 1 semana só por ali.

Sicilia e mais sul, Assis, Milão, San Marino, Sardenha, Ischia, Córsega e outras ilhas e certamente outras mais...

BUT THERE IS ONE MORE THING...

Como diria Steve Jobs: There is one more thing...

A combinação iPhone/iPad modificou estruturalmente minha maneira de viajar. Acho que até vou fazer um post futuro sobre isso mas aqui vão os 4 principais impactos:

Car GPS Tom-Tom: Economia de 200 euros evitando aluguel de GPS para o carro. Mas mais importante, GPS na tela de 9.7 polegadas com as ruas e estradas atualizadas a cada update não tem preço. A prova de bala, funcionou até nos caminhozinhos mais inóspitos.

Bye-bye Lonely Planet de papel: Não precisar carregar o “monstro” do Lonely Planet (nem tirar xerox das partes desejadas) e poder usar o search para ir direto ao que se busca é no mínimo inteligente. Melhor ainda, está no ipad e no iphone sincronizados simultaneamente, ou seja todo o tempo com você.

Mapas locais: Baixar apps com mapas locais de cidades como Roma e Florença e ter todos os pontos de interesse sem precisar de internet é muito legal. Assim, ao invés de levar o mapa do hotel, que precisa abrir e ficar olhando o nome das ruas, você vai caminhando descuidadamente e só vai monitorando se o seu pontinho no mapa (vermelho) está cada vez mais perto do ponto de interesse target (azul).

Áudio e Vídeo Guides: a visita à Pompéia com o Vídeo Guide de Pompéia no iPad foi muito legal. A oportunidade de parar em frente as ruínas e assistir a um vídeo com a reconstrução do local e narrando os principais fatos históricos não tem preço. Com certeza vou focar em áudio e video-guides para iphone e ipad nas próximas viagens.

Enfim, foi demais. Ficou difícil entrar no avião de volta ao Kuwait (até porque ganhei quase 8kgs....)




sábado, 28 de agosto de 2010

Música: Insensatez

Se alguém me perguntasse, o que é que o Brasil tem de melhor, e eu pudesse escolher somente 1 coisa, a resposta seria: Música.

A sonoridade da língua brasileira (e não o português) acrescida de nossa criatividade, mescla cultural e de influências do Brasil, com um pitada de nossa naturalidade, resultam em uma música única e inigualável.

Siga os passos dessa Rosa!

Rosa Passos, uma das melhores intérpretes da música brasileira é infelizmente pouco conhecida no Brasil...mas muito pelo mundo à fora.

E que Umami ela coloca nessa música do Jobim...



Claro que a original não podia ser nada menos espetacular...


quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Auto-enticidade: O impacto que o Rei não imaginou...

Quando eu tinha 7 anos, muito entusiasmado, cheguei à escola e contei aos meus colegas que eu adorava “Roberto Carlos” (imaginando que aquela era uma notícia bacana). Para minha surpresa, a reação foi de chacota geral. Todos riram-se de mim e não faltaram adjetivos de reprovação e intimidação (cafona, antiquado, bobo) e acusações de que eu gostava de música de velho.

“Well”...

...a reação natural para um menino daquela idade seria de envergonhar-se e se encolher diante das primeiras chibatadas que a sociedade (desde muito cedo) vai disparando contra nossas vidas.

Mas algo diferente aconteceu...

Ao invés de me sentir envergonhado e intimidado, foi nascendo dentro de mim uma satisfação e até um certo “orgulho” por gostar de algo que era diferente dos demais. De maneira muito infantil, senti um certo “prazer” por não acomodar o que se esperava de mim e me manter fiel ao que realmente eu gostava. Era como se fosse nascendo dentro mim um escudo que bloqueava o exterior e nutria meu interior.

Respondi em tom de reafirmação: Por que vocês estão rindo? Eu disse que gosto muito de “Roberto Carlos”.

Um silêncio se formou por 3-4 segundos, e a ruidosa avalanche de reprovação começou novamente...

Esse acontecimento aparentemente insignificante, terminou por jogar um papel central e fundamental na minha personalidade e como conseqüência, em tudo o mais que veio a se passar na minha vida. Essa passagem da minha infância “tatuou a minha alma”.

O tema de hoje é “Auto-enticidade”: ser autêntico a você mesmo.

Auto-enticidade é a “arte” de comportar-se guiado por diretrizes interiores independentemente do que espera o exterior.

Todos os dias, elementos externos (como sociedade, cultura, trabalho, família) batem à nossa porta para fazer demandas. E como é difícil tourear todas as forças! Vem um. Depois outro. E de repente, quando menos se espera, “nhac”, um pedaço de nossa auto-lealdade é retirada de nós. A auto-enticidade é o mecanismo que nos permite minimizar o fenômeno “nhac”.

No entanto, ser auto-êntico não significa ser excêntrico (e a linha que os separa é bastante tênue mas a diferença é abismal).

O auto-êntico, comporta-se de uma maneira distinta simplesmente porque enxerga algo diferente dos demais (o faz motivado por ele mesmo). O excêntrico também comporta-se de maneira distinta, mas o faz para chocar, para parecer diferente aos olhos dos que lhe rodeiam (a motivação são outros). O excêntrico destrói o propósito do auto-êntico no seu âmago, exatamente por voltar a colocar o externo (e não o interno) como ponto de referência.

Vestir-se cômodo, sem marcas mas com qualidade, em um evento em que todos estão “despampanantes” é um exemplo de auto-enticidade. Já, vestir-se “alternativo” para ir à Vila Madalena e parecer um rebelde sem causa é ser excêntrico. Alguém rico, comprar um Civic pode ser um exemplo de auto-enticidade; já um Ferrari é certamente ser excêntrico (vamos combinar, Ferrari não faz nenhum sentido para dirigir no dia a dia de uma cidade...).

A auto-enticidade é importante porque torna-se uma plataforma para guiar nossa tomada de decisões pela vida. Escolher o que estudar, onde trabalhar, com quem andar e principalmente o que fazemos em nosso tempo livre, passam a ser totalmente impactados pelo nível de auto-enticidade que cultivamos.

Uma palavra chave para ser capaz de praticar a auto-enticidade é a palavra NÃO. Uma vez escutei que “dizer SIM é fácil, mas um NÃO precisa ser construído”. Não saber construir um NÃO sem magoar as pessoas, é ser escravo de se comportar baseado no que se espera de nós (nhac!)

Alguns exemplos com sintomas de baixa na auto-enticidade:

  • Trabalho. Reunião. Ambiente tenso. A discussão lembra a professora do Charlie Brown (buabua, buabuabua, buabuabua...)
  • Um bar. Agito. Mesa grande. Muita gente. Olhar distante e sentimento de solidão....
  • Carro novo. 2 meses de excitação. Elogios de amigos. Carnívora dívida no banco (nhac!)...
  • Réveillon. Olhar a vida pelo retrovisor. Sensação de caderno por escrever...

A falta de auto-enticidade costuma resultar em sentimento de vazio, efemeridade e condicionamento. Um sentimento de falta de controle. Uma sensação de injeção entorpecente de sobrevivência.

Se eu tivesse um filho, e fosse obrigado a passar apenas 1 ensinamento para ele, possivelmente escolheria auto-ênticidade (apesar da disputa ser acirrada com outros conceitos) .

O caminho da auto-enticidade, apesar de não trivial e requerer boa dose de disciplina, tem suas recompensas. A mais importante: viver de acordo com o que se pensa e se sente resulta em mais felicidade e mais umami.

Trilhar o caminho da auto-enticidade nos permite ser os arquitetos de nossa própria vida...

Bom, nada mais justo do que encerrar o post com uma homenagem ao Rei. Certamente, ele deve imaginar que impactou a vida de muitos casais na dimensão do amor. Porém, o que ele talvez não imaginou, é que acidentalmente impactou a auto-enticidade de um menino.

Cavalgada: cheia de umami. Que poesia!



sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Filme: Hable con Ella (2002)

Filme: Hable con Ella (2002)

Diretor: Pedro Almodóvar

Umamis: 8

Existem filmes que são “filmes-pinturas”.

“Filmes-pinturas” são quadros e não histórias. São filmes que gostamos muito, mas não sabemos bem porque. Agrada, mas não por motivos lógicos ou racionais, e sim por algo mais intangível, mais artístico, menos óbvio (e "facinho facinho" de errar na mão). Chega até a dar um pouco de náusea. Utiliza tintas complexas como música, lágrimas, tomadas, cores, olhares, sofrimento, silêncio. Tem uma batida lenta, mas com pulso firme e marcado.

“Hable con Ella” é um filme-pintura. Não é um “Frida” (na minha opinião o maior expoente da categoria filme-pintura. Genial!) mas é definitivamente um excelente filme-pintura.

As pinceladas de “Hable con Ella” misturam lágrimas, amizade, solidão, tragédia, cinema-mudo, homossexualismo, teatro...

...e de certa maneira presenteia a música brasileira. O que é aquela cena do Caetano cantando Cururrucucú em versão acústica?...

(O video esta no final. Vale a pena dar uma paradinha de 3 minutos no meio do furacão do seu dia, clickar no link acima, e deixar essas imagens te levarem para algum lugar distante...)

Como é belo ver força e feminilidade combinadas na mesma mulher!

Que inspirador e provocante é personagem Marco Zuluaga, um homem que vive fora dos padrões, viaja pelo mundo escrevendo guias alternativas, deixa escorrer lágrimas ao ouvir a música de Caetano, sensibiliza-se no Teatro-musical e permite espaço para uma amizade nada convencional, porém mais verdadeira e descomprometida do que a maioria das amizades que presenciamos ao nosso redor. (surpresa boa, um filme de Almodóvar com um personagem masculino, com a excepcional atuação de Dario Grandinetti, como destaque do elenco.)

Já havia assistido há 6 anos atrás, e foi como assistir pela primeira vez; não perdeu nada de intensidade. É muito bom ver Pedro Almodóvar, ainda no seu melhor momento. Eu gosto bastante dos filmes dele, mas acredito que com o passar do tempo, “se le fue un poco la pelota”. As vezes, o artista ganha fama, exagera no excêntrico e perde a genialidade do início. Acho que isso aconteceu um pouco com ele apesar de um retorno agradável às origens em “Los Abrazos Rotos”.

Enfim, “Hable con Ella” é um caleidoscópio de sensações.

PS1: Vamos ver se re-assisto Frida um dia desses e coloco um review.

PS2: Ontem assisti “Celda 211”. É um “Carandiru” espanhol. Não vale um review dedicado, mas é um filme bastante bom.



quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Intimidade

Acredito que uma das áreas mais importantes para uma vida repleta de “umamis” é o relacionamento. Maridos, esposas, namoradas ou parceiros em geral terminam por impactar de maneira estrutural nosso dia a dia.

Um amigo uma vez me contou, que a cada vez que ele começava um novo namoro, sua avó sempre lhe perguntava a mesma questão: “Essa mulher te puxa para cima ou para baixo?”

Realmente, a pessoa que nos acompanha pode enriquecer nossas vidas, proporcionar paz e ser a ignição de crescimento, mas pode também nos “puxar para baixo” e transformar nossa vida em uma tempestade.

Na minha opinião, existe um ingrediente que se destaca e possui um papel central no nível de “umami” de um relacionamento: intimidade.

Intimidade é sutil. Intimidade é natural, não pode ser forjada.

Hoje gostaria de seguir um formato diferente. Ao invés de escrever minha opinião sobre o que é intimidade, dividirei alguns pontos que, de forma quase inconsciente, observo quando estou em um relacionamento. Para avaliar o “nível de intimidade” do relacionamento, observo se há a existência de:

- Um sentimento de que há algo único e especial entre os dois. Sabe quando você olha ao redor em um restaurante e parece que todas as outras pessoas são uns robôs da vida. Tudo ao redor parece um pouco raso, artificial e que você tem o privilégio de sentir-se em uma ilha com um brilho especial. Uma relação viva. Que pulsa.

- Comunicação não verbal (sexto sentido, olhar). Talvez uma das mais fortes marcas da intimidade. A dimensão e visão do casal é tão compatível, que em muitas ocasiões dispensa a comunicação verbal e um mero olhar, linguagem corporal ou até respiração são suficientes para transmitir sentimentos e percepções.

- Uma percepção de que somos pessoas melhores ao lado do parceiro(a). É como se a complementaridade e os pontos em comuns da outra pessoa, tivessem a alquimia de nos fazer ver a vida através de lentes mais potentes. É como se nosso parceiro(a) conseguisse catalisar e amplificar o que temos de melhor e neutralizar e dissipar nossos aspectos mais fracos e negativos. É sentir que somos puxados para cima. Que o relacionamento nos enriquece.

- Uma vontade de passar mais tempo de qualidade juntos, mesmo que em detrimento de outros compromissos sociais e pessoais. Sem deixar de praticar uma vida social enriquecedora, a convivência em casal passa a ser o ponto central, com uma preferencial natural por descartar alguns eventos da avalanche social que nos bombardeia em prol de tempo de qualidade, fazendo atividades simples e cotidianas juntos.

-Confiança e vontade de dividir segredos e contar novidades, mesmo que totalmente corriqueiras e ordinárias.

- Autenticidade de ser você mesmo e agir com naturalidade e sem máscaras. Não ser um ator. Não ter um papel a cumprir. Isso deixamos para o trabalho e eventos; e rimos deles. Entre os dois há que se sentir como se estivesse envolto um roupão com chinelos confortáveis, após um banho quente e uma massagem relaxante.

- Conforto ao sentir-se exposto, frágil e vulnerável. Sabemos que qualquer pessoa jamais pode ter 100% de controle sobre uma relação, uma vez que é formada por duas partes independentes. No entanto, a consciência dessa fragilidade não afeta o desejo de se entregar, de arriscar-se, apesar de não haver garantias.

- Diversão e senso de humor compatível. É preciso rir com o parceiro como com se ri com o melhor amigo. Casal sem riso é como flor sem água; murcha.

- Espontaneidade e vontade de ajudar o outro de formar genuína e descompromissada. Vontade de cuidar um do outro. É pensar no outro sem ter que se policiar. É comprar algo ou fazer algo pelo outro sem ter que pensar. É impactar, influenciar e doar-se sem que para isso precise existir um evento externo como um pedido ou uma data especial. É parte do dia a dia.

- Prazer em fazer obrigações e coisas não agradáveis juntos. Ir ao supermercado. Arrumar a casa. Cozinhar juntos. Até ir fazer exame médico passa a ser agradável ao lado do companheiro(a).

- Respeito, ser moderado e saber reagir nas situações de raiva. Não ser punitivo. Todos, por vezes, sentimos raiva e alteração emocional. Mas a consideração que temos pelo companheiro(a) atua como antídoto natural contra uma reação mais extremada, reduzindo a intensidade.

- Química e afinidade sexual. Temos ordens profundas e primárias e elas devem ser respeitadas. Naturalidade e conforto com o corpo, nudez, e com o ato de fazer amor com o parceiro(a) além de proporcionar um prazer especial e sublime, formam parte integrante da intimidade. O sexo é como a “droga saudável” do casal. Entorpece, relaxa e aproxima. Abre os canais do carinho.

- Admiração (e de preferência, nível de intelectualidade compatível). Admirar a outra pessoal é fundamental. Admirar que ela é melhor que você em algumas (ou várias) coisas, sejam elas mais técnicas e especificas ou mais humanas e menos tangíveis.

- Paz. Um relacionamento deve transmitir segurança, estabilidade e paz. Isso de relacionamento dinâmico, com altos e baixos, ciúmes, competição é coisa para novela. Ninguém “deveria” gostar de viver em cima de um touro mecânico. Na vida real poucos sentimentos são tão importantes como sentir paz (no meu caso pessoal é meu target número 1). Um relacionamento deve balancear de forma mágica intensidade e serenidade.

A intimidade também possui obstáculos. O livro “Blink” do Malcolm Gladwell narra um trecho interessante que me deixou marcado. Ele conta que em um experimento, um pesquisador (Gottman) provou que se analisasse uma hora de conversa entre uma marido e esposa sobre um tema polêmico, ele conseguia prever com 95% de certeza se aquele casal estaria casado em 15 anos. Mais incrível ainda, conseguia 90% de acertos, se a análise fosse de 15 minutos. O que o pesquisador analisava, é o que ele chamava de Four Horsemen: defensividade; “obstrução” (stonewalling); criticismo; “menosprezo/desprezo” (contempt). No entanto, de fato havia uma emoção que para Gottman era a mais importante de todas: menosprezo/desprezo. Se ele observasse que um dos dois integrantes de um casal demonstrasse menosprezo em relação ao outro, ele considerava essa constatação como a mais relevante para determinar que um casamento estava em problemas.

Pois é, um relacionamento com Umami necessita de uma alta e sólida dose de intimidade.

Um pouco "apimentado”? Sensação de terreno sólido e fértil ou Houston we have a p...?

Termino a reflexão com uma frase dita por um grande amigo meu:

“Eu não quero casar apaixonado, eu quero casar amando. Quero casar quando diga: eu não posso não casar com essa mulher”...