sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Iceland. Shhhhh.....



Amplitude, imensidão, silêncio, cores, contrastes, natureza, isolamento, paz...

É muito difícil descrever o que a Islândia tem de especial. Qualquer adjetivo perde  dimensão ou perspectiva. Qualquer foto parece um mero esboço distorcido da realidade. Lembro-me de que a cada foto tirada, olhava frustrado para câmera e pensava: “É, essa vai ter que ficar registrada na memória...”

Os horizontes e os contrastes da Islândia ficam tatuados na memória e na alma. Por vezes é difícil para os olhos lidarem com o que está adiante. A Islândia embriaga.

A todo tempo, o entorno, que é uma materialização real do mundo do Senhor dos Anéis, insiste em  nos recordar de nossa insignificância na condição individual; é como se não importássemos para nada, reduzidos a um minúsculo pontinho diante de tamanha grandiosidade.

Um outro efeito interessante, é o persistente questionamento de nosso modelo de metrópole. Em muitos momentos, ao olhar perdido para aqueles horizontes absurdos, me lembrava de São Paulo, da sensação de falta de espaço, da falta de ar, da falta de vista horizontal, do “ensardinhamento” diário, da asfixia do tempo, do trânsito, da poluição e pensava: “como conseguimos viver assim???”. Definitivamente não é natural.

Nas mega-metrópoles, vivemos em uma constante asfixia de o que vamos fazer, com quem nos vamos encontrar, para onde vamos sair. Existe uma constante necessidade de nos distrairmos pensado na próxima atividade. Vamos de evento em evento como uma peteca “kickando”. Nenhum deles muito legal, todos ok, curtos, com pessoas oks e com o próximo plano em mente. E assim passa mais um dia de maneira suportável. 

Na Islândia não, acontece o contrário: não sentimos vontade, nem pressa de ir para lungar algum. Na verdade é uma moléstia deixar de desfrutar qualquer parada. A vontade é de ficar por horas e horas; dias, ali, em silêncio, apenas existindo. Vivendo devagar...

E não. Não se trata de um silêncio melancólico ou triste. É um silêncio calmo, que preenche e que confere paz.

Encontrei muitos locais. No meio do nada. Em fazendas, cuidando de seus cavalos. Em povoados minúsculos circundados por uma natureza indescritível. E sempre lhes perguntava: como é viver na Islândia? Respondiam: O que você acha? (e apontavam ao redor.. com um olhar que desdenha: “você não entenderia...”)

Gratas surpresas
  • Dirigir “lost in iceland”: Apesar de espetaculares, nenhum dos highlights ou dos pontos turísticos é a atividade mais legal na Islândia. Surpreendentemente, simplesmente dirigir, perdido no meio do nada, é de longe o mais cool na Islândia. Islândia é o conjunto e não um ponto. Durante toda volta na ilha, você dirige praticamente sozinho. Perdi o controle do carro em vários momentos, pois meus olhos se perdiam nas paisagens. Acredito que dirigir só perca sua posição no ranking para ficar lendo, cozinhando ou sem fazer nada, por dia inteiro em um recanto perdido no meio do nada...(mas esse vai ficar para ser testado numa segunda vez)

  • Almoçar isolado no meio do nada: durante o trajeto, existem vários pontos sem ninguém, com uma mesa e cadeiras de madeira, no meio de montanhas, lagos e fiordes. Pode-se parar o carro, descer, almoçar circundado de um entorno de tirar o fôlego.

  • Música: a música na Islândia é outra grata surpresa, com influência de Norah Jones, Jack Jonson, misturado com Pink Floyd e Loreena Mckennitt eles fazem uma música alternativa e meio experimental, por vezes underground mas de muita muita qualidade. A música do vídeo acima é um exemplo. Recomendo Sin Fang, Snori Helgason e Rokkurro. Na rua da igreja em Reikjavik tem uma loja de CDs amarela chamada 12 Tónar que é muito bacana; tem uma engenhoca de fazer café de 19..e lá vai bolinha. A música ao vivo nos bares locais também é de qualidade.

  • Highlights favoritos: Golden Circle, Jökulsárlón Glacier Lagoon, a maioria das cachoeiras e especialmente Dettifoss, a região dos fiordes à leste, Námaskarð, as vistas do alto de Vik e Snæfellsnes. Fotos, no meu FB link.



Curiosidades
  • Cobains: As ruas de Reykjavik estão cheias de Kurt Cobains meio que “roceiros”. É um monte de  jovem loiro underground, com franjas a la Smash, e calças caindo pelos joelhos. Engraçado.

  • Self-service: Os “icelandicos” (como chamo carinhosamente os islandeses) são obcecados pelo self-service. Além dos esperados self-service nos postos de gasolina e empacotando no supermercado, eles levam o conceito mais além: carregue você mesmo pelas escadas suas malas até o terceiro andar do hotel, pegue sua comida você mesmo, dentre muitos outros. E não é por mal, dá a impressão que os “icelandicos” vêem o excesso de “servencialismo” como algo desigual e não desejado na sociedade.  É o socialismo sem ser imposto. Assim, se você vem em um restaurante, eu te dou comida. Se vem em um hotel, te dou um quarto. Nada mais. Apesar de não ser nosso costume, achei questionador. 

  • Honestidade e civilidade: Os “icelandicos” são bastante civilizados, austeros e civilizados. Ainda mantendo um saudável are de roceiro de saudade pequena, as coisas funcionam e se pode confiar 100%. Por exemplo, percebi que esqueci meu cartão de crédito em um restaurante e só liguei para lá para eles cortarem o cartão horas e horas depois. Sem preocupação. Já nos bares de um pais verde e amarelo...

  • Free Wifi: Quase todos os hotéis e restaurantes/cafés tem Free Wifi e normalmente com boa velocidade. Not bad.
Surpresas negativas
  • Custo: Fui imaginando que seria barato depois que o país quebrou em 2008, mas o cartão de crédito ficou dodói... Hotel e comida tem custos bem elevados...

  • Hotéis: Os hotéis na Islândia estão divididos em 2 grupos: os que tem água com cheiro de ovo podre e os que não. 90% deles são os com cheiro :(. Extremamente desagradável. Nunca se tem a sensação de real limpeza. Os destaques ficam para o Hotel Reykjavik Centrum (bem melhor que o de mesmo preço Reykjavik Residence Apartment) e para o simpático Vogafjos-Guesthouse Lodging na região de Myvatn, que possui uma área de café da manhã envidraçada, com vistas para o lago e para as vaquinhas da fazenda do hotel. Se for ao passeio de baleias em Husavik, não ficar em hipótese alguma no Fosshotel Husavik Lodging (apesar de sua boa colocação no tripadvisor)

  • Moscas em Myvatn: pelamordedeus...essa sim foi uma surpresa negativa! Apesar do lugar ser maravilhoso, pouco pude desfrutar dada a quantidade infinita de moscas. Alguns mais avisados passeavam usando um chapéu que tinha uma redinha em volta do rosto. Mandatório, sem essa redinha, pouco se desfruta da beleza da região próxima ao lago.

  • Comida local: (ler em “Gastronomia”)

  • Highlights menos interessantes: Blue Lagoon (é basicamente um piscinão de Itaquera repleto de Corinthiano loiro). Dimmuborgir, Hraunfossar também são médios. Alguns me matariam, mas as baleias em Husavik são “nice to have” porém dispensáveis.
Gastronomia
  • Comida local: Tenho por teoria que “loiro + olho azul + frio = Comida Ruim”. Bons exemplos dessa teoria são Rússia, Europa do Leste e Alemanha. A Islândia não é diferente e é bem-vinda ao grupo com louvor. A comida local é baseada em peixes (muito salmão defumado) e também inclui baleia, puffin e o absolutamente intragável tubarão (a não ser que você pense que pode gostar de uma comida com forte sabor de amoníaco). Os “Icelandicos” adoram comer pepino, pimentão e ovo cozido frio no café da manhã. Lamentável. 

  • Baleia: A baleia quando bem preparada é bastante saborosa. É vermelha escura, se parece mais com carne do que com peixe, mas com um sabor mais leve. Tem um boteco em Reikjavik chamado Islenski Barinn que prepara uma entrada de baleia deliciosa.

  • Hot Dogs: OK, eu não sou lá muito chegado em cachorro quente. Mas os hot dogs na Islândia são muito saborosos. É um hot dog simplão (não aquela mandala que comemos no Brasil), com uma salsicha de carneiro, e um molho local que acredito vai bacon ou algo defumado. Impressive. Em Reykjavik, tem um local especial para comê-los: uma barraquinha vermelha, entre o Hotel Radisson Blu e o escritório do Icelandic Excursions. Está sempre com fila, e ficou tão famoso que foi o primeiro lugar que o Bill Clinton visitou quando chegou em Reykjavik (tem uma foto dele comendo o hot dog dentro do Kiosk)

  • Cerveja: Curiosamente só tomei cerveja estupidamente gelada em 3 países: chopp no Brasil, Imperial em Portugal e Draught beer no Islanski Barinn na Islândia (onde a caneca vem completamente coberta de gelo).


  • Restaurantes: os destaques vão para Fish Company, Fish Market e claramente meu boteco preferido, o Islanski Barinn. Evitar o número 1 do tripadvisor Harry’s (afastado, ambiente pobre e insípido). Ah! O único restaurante de tapas/art-gallery na região dos fiordes também é interessante.


Ficou Faltando :(
  • Northern lights: a afamada aurora borealis ocorre com mais freqüência no inverno bravo.
  • Puffins: uma mistura de pássaro com pingüim (bem simpático) que deixou a ilha 2 semanas antes d’eu chegar e não me avisou.
  • Vulcão com lava em atividade: o último que tinha lava laranja e dava pra ir de helicóptero  já havia apagado...
  • Askja: Uma cratera com spring water  como a blue lagoon

Iceland é mágico. É único. É top 3 +Umami travel!!!! Espero um dia poder voltar a estar “Lost in Iceland...”


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