sábado, 28 de agosto de 2010

Música: Insensatez

Se alguém me perguntasse, o que é que o Brasil tem de melhor, e eu pudesse escolher somente 1 coisa, a resposta seria: Música.

A sonoridade da língua brasileira (e não o português) acrescida de nossa criatividade, mescla cultural e de influências do Brasil, com um pitada de nossa naturalidade, resultam em uma música única e inigualável.

Siga os passos dessa Rosa!

Rosa Passos, uma das melhores intérpretes da música brasileira é infelizmente pouco conhecida no Brasil...mas muito pelo mundo à fora.

E que Umami ela coloca nessa música do Jobim...



Claro que a original não podia ser nada menos espetacular...


quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Auto-enticidade: O impacto que o Rei não imaginou...

Quando eu tinha 7 anos, muito entusiasmado, cheguei à escola e contei aos meus colegas que eu adorava “Roberto Carlos” (imaginando que aquela era uma notícia bacana). Para minha surpresa, a reação foi de chacota geral. Todos riram-se de mim e não faltaram adjetivos de reprovação e intimidação (cafona, antiquado, bobo) e acusações de que eu gostava de música de velho.

“Well”...

...a reação natural para um menino daquela idade seria de envergonhar-se e se encolher diante das primeiras chibatadas que a sociedade (desde muito cedo) vai disparando contra nossas vidas.

Mas algo diferente aconteceu...

Ao invés de me sentir envergonhado e intimidado, foi nascendo dentro de mim uma satisfação e até um certo “orgulho” por gostar de algo que era diferente dos demais. De maneira muito infantil, senti um certo “prazer” por não acomodar o que se esperava de mim e me manter fiel ao que realmente eu gostava. Era como se fosse nascendo dentro mim um escudo que bloqueava o exterior e nutria meu interior.

Respondi em tom de reafirmação: Por que vocês estão rindo? Eu disse que gosto muito de “Roberto Carlos”.

Um silêncio se formou por 3-4 segundos, e a ruidosa avalanche de reprovação começou novamente...

Esse acontecimento aparentemente insignificante, terminou por jogar um papel central e fundamental na minha personalidade e como conseqüência, em tudo o mais que veio a se passar na minha vida. Essa passagem da minha infância “tatuou a minha alma”.

O tema de hoje é “Auto-enticidade”: ser autêntico a você mesmo.

Auto-enticidade é a “arte” de comportar-se guiado por diretrizes interiores independentemente do que espera o exterior.

Todos os dias, elementos externos (como sociedade, cultura, trabalho, família) batem à nossa porta para fazer demandas. E como é difícil tourear todas as forças! Vem um. Depois outro. E de repente, quando menos se espera, “nhac”, um pedaço de nossa auto-lealdade é retirada de nós. A auto-enticidade é o mecanismo que nos permite minimizar o fenômeno “nhac”.

No entanto, ser auto-êntico não significa ser excêntrico (e a linha que os separa é bastante tênue mas a diferença é abismal).

O auto-êntico, comporta-se de uma maneira distinta simplesmente porque enxerga algo diferente dos demais (o faz motivado por ele mesmo). O excêntrico também comporta-se de maneira distinta, mas o faz para chocar, para parecer diferente aos olhos dos que lhe rodeiam (a motivação são outros). O excêntrico destrói o propósito do auto-êntico no seu âmago, exatamente por voltar a colocar o externo (e não o interno) como ponto de referência.

Vestir-se cômodo, sem marcas mas com qualidade, em um evento em que todos estão “despampanantes” é um exemplo de auto-enticidade. Já, vestir-se “alternativo” para ir à Vila Madalena e parecer um rebelde sem causa é ser excêntrico. Alguém rico, comprar um Civic pode ser um exemplo de auto-enticidade; já um Ferrari é certamente ser excêntrico (vamos combinar, Ferrari não faz nenhum sentido para dirigir no dia a dia de uma cidade...).

A auto-enticidade é importante porque torna-se uma plataforma para guiar nossa tomada de decisões pela vida. Escolher o que estudar, onde trabalhar, com quem andar e principalmente o que fazemos em nosso tempo livre, passam a ser totalmente impactados pelo nível de auto-enticidade que cultivamos.

Uma palavra chave para ser capaz de praticar a auto-enticidade é a palavra NÃO. Uma vez escutei que “dizer SIM é fácil, mas um NÃO precisa ser construído”. Não saber construir um NÃO sem magoar as pessoas, é ser escravo de se comportar baseado no que se espera de nós (nhac!)

Alguns exemplos com sintomas de baixa na auto-enticidade:

  • Trabalho. Reunião. Ambiente tenso. A discussão lembra a professora do Charlie Brown (buabua, buabuabua, buabuabua...)
  • Um bar. Agito. Mesa grande. Muita gente. Olhar distante e sentimento de solidão....
  • Carro novo. 2 meses de excitação. Elogios de amigos. Carnívora dívida no banco (nhac!)...
  • Réveillon. Olhar a vida pelo retrovisor. Sensação de caderno por escrever...

A falta de auto-enticidade costuma resultar em sentimento de vazio, efemeridade e condicionamento. Um sentimento de falta de controle. Uma sensação de injeção entorpecente de sobrevivência.

Se eu tivesse um filho, e fosse obrigado a passar apenas 1 ensinamento para ele, possivelmente escolheria auto-ênticidade (apesar da disputa ser acirrada com outros conceitos) .

O caminho da auto-enticidade, apesar de não trivial e requerer boa dose de disciplina, tem suas recompensas. A mais importante: viver de acordo com o que se pensa e se sente resulta em mais felicidade e mais umami.

Trilhar o caminho da auto-enticidade nos permite ser os arquitetos de nossa própria vida...

Bom, nada mais justo do que encerrar o post com uma homenagem ao Rei. Certamente, ele deve imaginar que impactou a vida de muitos casais na dimensão do amor. Porém, o que ele talvez não imaginou, é que acidentalmente impactou a auto-enticidade de um menino.

Cavalgada: cheia de umami. Que poesia!



sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Filme: Hable con Ella (2002)

Filme: Hable con Ella (2002)

Diretor: Pedro Almodóvar

Umamis: 8

Existem filmes que são “filmes-pinturas”.

“Filmes-pinturas” são quadros e não histórias. São filmes que gostamos muito, mas não sabemos bem porque. Agrada, mas não por motivos lógicos ou racionais, e sim por algo mais intangível, mais artístico, menos óbvio (e "facinho facinho" de errar na mão). Chega até a dar um pouco de náusea. Utiliza tintas complexas como música, lágrimas, tomadas, cores, olhares, sofrimento, silêncio. Tem uma batida lenta, mas com pulso firme e marcado.

“Hable con Ella” é um filme-pintura. Não é um “Frida” (na minha opinião o maior expoente da categoria filme-pintura. Genial!) mas é definitivamente um excelente filme-pintura.

As pinceladas de “Hable con Ella” misturam lágrimas, amizade, solidão, tragédia, cinema-mudo, homossexualismo, teatro...

...e de certa maneira presenteia a música brasileira. O que é aquela cena do Caetano cantando Cururrucucú em versão acústica?...

(O video esta no final. Vale a pena dar uma paradinha de 3 minutos no meio do furacão do seu dia, clickar no link acima, e deixar essas imagens te levarem para algum lugar distante...)

Como é belo ver força e feminilidade combinadas na mesma mulher!

Que inspirador e provocante é personagem Marco Zuluaga, um homem que vive fora dos padrões, viaja pelo mundo escrevendo guias alternativas, deixa escorrer lágrimas ao ouvir a música de Caetano, sensibiliza-se no Teatro-musical e permite espaço para uma amizade nada convencional, porém mais verdadeira e descomprometida do que a maioria das amizades que presenciamos ao nosso redor. (surpresa boa, um filme de Almodóvar com um personagem masculino, com a excepcional atuação de Dario Grandinetti, como destaque do elenco.)

Já havia assistido há 6 anos atrás, e foi como assistir pela primeira vez; não perdeu nada de intensidade. É muito bom ver Pedro Almodóvar, ainda no seu melhor momento. Eu gosto bastante dos filmes dele, mas acredito que com o passar do tempo, “se le fue un poco la pelota”. As vezes, o artista ganha fama, exagera no excêntrico e perde a genialidade do início. Acho que isso aconteceu um pouco com ele apesar de um retorno agradável às origens em “Los Abrazos Rotos”.

Enfim, “Hable con Ella” é um caleidoscópio de sensações.

PS1: Vamos ver se re-assisto Frida um dia desses e coloco um review.

PS2: Ontem assisti “Celda 211”. É um “Carandiru” espanhol. Não vale um review dedicado, mas é um filme bastante bom.



quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Intimidade

Acredito que uma das áreas mais importantes para uma vida repleta de “umamis” é o relacionamento. Maridos, esposas, namoradas ou parceiros em geral terminam por impactar de maneira estrutural nosso dia a dia.

Um amigo uma vez me contou, que a cada vez que ele começava um novo namoro, sua avó sempre lhe perguntava a mesma questão: “Essa mulher te puxa para cima ou para baixo?”

Realmente, a pessoa que nos acompanha pode enriquecer nossas vidas, proporcionar paz e ser a ignição de crescimento, mas pode também nos “puxar para baixo” e transformar nossa vida em uma tempestade.

Na minha opinião, existe um ingrediente que se destaca e possui um papel central no nível de “umami” de um relacionamento: intimidade.

Intimidade é sutil. Intimidade é natural, não pode ser forjada.

Hoje gostaria de seguir um formato diferente. Ao invés de escrever minha opinião sobre o que é intimidade, dividirei alguns pontos que, de forma quase inconsciente, observo quando estou em um relacionamento. Para avaliar o “nível de intimidade” do relacionamento, observo se há a existência de:

- Um sentimento de que há algo único e especial entre os dois. Sabe quando você olha ao redor em um restaurante e parece que todas as outras pessoas são uns robôs da vida. Tudo ao redor parece um pouco raso, artificial e que você tem o privilégio de sentir-se em uma ilha com um brilho especial. Uma relação viva. Que pulsa.

- Comunicação não verbal (sexto sentido, olhar). Talvez uma das mais fortes marcas da intimidade. A dimensão e visão do casal é tão compatível, que em muitas ocasiões dispensa a comunicação verbal e um mero olhar, linguagem corporal ou até respiração são suficientes para transmitir sentimentos e percepções.

- Uma percepção de que somos pessoas melhores ao lado do parceiro(a). É como se a complementaridade e os pontos em comuns da outra pessoa, tivessem a alquimia de nos fazer ver a vida através de lentes mais potentes. É como se nosso parceiro(a) conseguisse catalisar e amplificar o que temos de melhor e neutralizar e dissipar nossos aspectos mais fracos e negativos. É sentir que somos puxados para cima. Que o relacionamento nos enriquece.

- Uma vontade de passar mais tempo de qualidade juntos, mesmo que em detrimento de outros compromissos sociais e pessoais. Sem deixar de praticar uma vida social enriquecedora, a convivência em casal passa a ser o ponto central, com uma preferencial natural por descartar alguns eventos da avalanche social que nos bombardeia em prol de tempo de qualidade, fazendo atividades simples e cotidianas juntos.

-Confiança e vontade de dividir segredos e contar novidades, mesmo que totalmente corriqueiras e ordinárias.

- Autenticidade de ser você mesmo e agir com naturalidade e sem máscaras. Não ser um ator. Não ter um papel a cumprir. Isso deixamos para o trabalho e eventos; e rimos deles. Entre os dois há que se sentir como se estivesse envolto um roupão com chinelos confortáveis, após um banho quente e uma massagem relaxante.

- Conforto ao sentir-se exposto, frágil e vulnerável. Sabemos que qualquer pessoa jamais pode ter 100% de controle sobre uma relação, uma vez que é formada por duas partes independentes. No entanto, a consciência dessa fragilidade não afeta o desejo de se entregar, de arriscar-se, apesar de não haver garantias.

- Diversão e senso de humor compatível. É preciso rir com o parceiro como com se ri com o melhor amigo. Casal sem riso é como flor sem água; murcha.

- Espontaneidade e vontade de ajudar o outro de formar genuína e descompromissada. Vontade de cuidar um do outro. É pensar no outro sem ter que se policiar. É comprar algo ou fazer algo pelo outro sem ter que pensar. É impactar, influenciar e doar-se sem que para isso precise existir um evento externo como um pedido ou uma data especial. É parte do dia a dia.

- Prazer em fazer obrigações e coisas não agradáveis juntos. Ir ao supermercado. Arrumar a casa. Cozinhar juntos. Até ir fazer exame médico passa a ser agradável ao lado do companheiro(a).

- Respeito, ser moderado e saber reagir nas situações de raiva. Não ser punitivo. Todos, por vezes, sentimos raiva e alteração emocional. Mas a consideração que temos pelo companheiro(a) atua como antídoto natural contra uma reação mais extremada, reduzindo a intensidade.

- Química e afinidade sexual. Temos ordens profundas e primárias e elas devem ser respeitadas. Naturalidade e conforto com o corpo, nudez, e com o ato de fazer amor com o parceiro(a) além de proporcionar um prazer especial e sublime, formam parte integrante da intimidade. O sexo é como a “droga saudável” do casal. Entorpece, relaxa e aproxima. Abre os canais do carinho.

- Admiração (e de preferência, nível de intelectualidade compatível). Admirar a outra pessoal é fundamental. Admirar que ela é melhor que você em algumas (ou várias) coisas, sejam elas mais técnicas e especificas ou mais humanas e menos tangíveis.

- Paz. Um relacionamento deve transmitir segurança, estabilidade e paz. Isso de relacionamento dinâmico, com altos e baixos, ciúmes, competição é coisa para novela. Ninguém “deveria” gostar de viver em cima de um touro mecânico. Na vida real poucos sentimentos são tão importantes como sentir paz (no meu caso pessoal é meu target número 1). Um relacionamento deve balancear de forma mágica intensidade e serenidade.

A intimidade também possui obstáculos. O livro “Blink” do Malcolm Gladwell narra um trecho interessante que me deixou marcado. Ele conta que em um experimento, um pesquisador (Gottman) provou que se analisasse uma hora de conversa entre uma marido e esposa sobre um tema polêmico, ele conseguia prever com 95% de certeza se aquele casal estaria casado em 15 anos. Mais incrível ainda, conseguia 90% de acertos, se a análise fosse de 15 minutos. O que o pesquisador analisava, é o que ele chamava de Four Horsemen: defensividade; “obstrução” (stonewalling); criticismo; “menosprezo/desprezo” (contempt). No entanto, de fato havia uma emoção que para Gottman era a mais importante de todas: menosprezo/desprezo. Se ele observasse que um dos dois integrantes de um casal demonstrasse menosprezo em relação ao outro, ele considerava essa constatação como a mais relevante para determinar que um casamento estava em problemas.

Pois é, um relacionamento com Umami necessita de uma alta e sólida dose de intimidade.

Um pouco "apimentado”? Sensação de terreno sólido e fértil ou Houston we have a p...?

Termino a reflexão com uma frase dita por um grande amigo meu:

“Eu não quero casar apaixonado, eu quero casar amando. Quero casar quando diga: eu não posso não casar com essa mulher”...

domingo, 15 de agosto de 2010

Filme: Caramel (2007) & Viagem: Beirute

Filme: Caramel (Sukkar banat)

Diretora (e principal atriz): Nadine Labaki

Umamis: 7

Sei que as recomendações de filme estão um pouco “Middle Easterns”, mas após assistir o filme Caramel no final de semana passado e ir a Beirute nesse final de semana me sinto quase em dívida para fazer uma revisão tripla: filme-cidade-viagem.

O filme é uma espécie de “Sex-in-the-City” libanês. Com personagens muito bem construídos, o filme retrata a vida de 5 mulheres libanesas na sua vertente mais árabe e menos mediterrânea.

Apesar de tratar de temas femininos universais, o mais impactante é o retrato impecável da mulher árabe com viés liberal. Utilizando ingredientes como amores proibidos, repressão sexual, pressão social para casamento x idade, o filme pinta com maestria a mulher árabe que está na intersecção do liberal e da repressão.

A construção dos personagens é genial:

  • Layale: apaixonada por um homem casado que promete que irá abandonar a esposa para ficar com ela (familiar?)
  • Nisrine: como está para casar, necessita fazer uma cirurgia para simular que ainda é virgem (seguramente não-familiar...)
  • Rima: em processo de descobrir-se lésbica (cada vez mais familiar...)
  • Jamale: preocupada por passar dos 30+’s e não conseguir casar (bastante familiar)
  • Rose: na batalha entre amor e cuidar de sua irmão mais velha e “louca”

Seis anos de Oriente Médio, permitiram-me conhecer de perto a mulher de Caramel. Uma mulher que na ânsia de combinar força com feminilidade, acaba por perder esse equilíbrio e junto com ele bastante da feminilidade através de uma atitude ríspida, uma maneira agressiva de se comunicar, uma maquiagem exagerada assim como a cor de suas roupas.

Essa mulher – bastante real - está retratada em Caramel.

Viagem: Beirute (Líbano)

Há alguns anos atrás, a CNN colocou no ar um documentário que se intitulava: “Brazil – a country of contrasts”. Apesar de estar de acordo com a qualificação, penso que poucos países são sinônimo de contrates como aqueles situados na transição Ocidente – Oriente (Turquia, Israel e Líbano)

Dono do título de “inventores” do alfabeto (fenícios), o Líbano reúne 3 línguas (Árabe, Francês e Inglês); Islâmicos x Cristãos; Líbano x Síria; Hezbollah, Shiitas x Sunitas, OLP, neve x mar, sheesha x balada... Está bom para contrastes? É um caldeirão pronto para explodir (e a cada par de anos explode).

Beirute é uma cidade bastante difícil de rotular, mas eu tentaria algo como:

“Uma ilha de mediterrâneo em um mar de Islam”.

Beirute é uma espécie de cidade-Phoênix que se reconstrói das cinzas para sempre voltar a oferecer um ambiente descolado e vibrante.

Ao contrário da fama, a gastronomia de Beirute nunca me emocionou em nenhuma das minhas passagens pelo Líbano. No entanto, se há algo que os de libaneses sabem fazer é: night. (alerta, a noite de Beirute é disputada e requer indicação para entrar nos lugares mais cool).

Apesar de ser um long-shot, sob alguns aspectos, também sempre fico com a sensação de que Beirute tem um “que” de São Paulo pequenina: Zero urbanismo, mas com uma colcha de retalhos de estilos escondida detrás do caos visual.

Não vou focar nas recomendações óbvias (cafés na reconstruída downtown, Corniche com os pigeon rocks e a Gruta Jeita).

As três recomendações da viagem são: Baalbek, Behind the Green Door e Sky-bar.

Baalbeck: o site está a 1h45 de Beirute e possui ruínas romanas em incrível estado de preservação com destaque particular para o Templo de Bacco (sim, o mesmo deus do vinho e do bacanal). (Fotos em breve)

Behind the Green Door: Ao final da vibrante Gemmayzeh street, uma mistura de Sub-Astor com Café de La Musique em seus tempos áureos. Freqüência garantida da high-society libanesa (que apesar de o ser-la, não tem nada de “nojentinha” e mantém naturalidade e diversão).

Sky-bar: consiga alguém “in” para reservar com semanas de antecedência. Um bar/disco a céu aberto que lembra o Reina no Bosphorus em Istambul, só que menos turístico e mais exclusivo. A música é impecável e o visual é show. Abaixo, link do vídeo de 30s realizado in-loco com a câmera do telefone (se estiver em público, abaixe o volume do computador).

http://www.youtube.com/watch?v=icmwbxrBd8s

Como as últimas duas recomendações são de night, vale a ressalva de que ultimamente estou bastante "fora do circuito", mas essas duas são digamos "de bom gosto". (apesar de ainda assim demandarem duas semanas de recuperação e repouso :-)

Por fim, mesmo que óbvio pelo post, Beirute fica ainda mais interessante depois de assistir o filme Caramel.

E agora, me despeço no melhor estilo libanês: Bonsoir; تصبح على خير.; Good Night!

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Gastronomia: Wagyu (no MJ's)


Wagyu (Hida beef ou Kobe beef) é uma das minhas maiores paixões gastronômicas. É uma “iguaria” na sua forma in-natura.
E o que é o wagyu? Wagyu é uma carne com alto teor de gordura entremeada.

E porque o destaque em entremeada? Justamente pelo fato de ser essa a propriedade que separa o wagyu da carne “engordurada” de má qualidade.

Diz a lenda, que o wagyu é o resultado de vacas com vida de bacana! Conta-se, que as vacas do tipo do wagyu, recebem regulares sessões de massagem durante suas vidas e que também são alimentadas a base de cerveja! (só faltava escutar Loreena McKennitt também). Infelizmente, textos com maior teor técnico, desmentem esse mito e relacionam o wagyu a um determinado tipo de bovino (ver textos copiados do Wikipédia no final do post).

No entanto, eu prefiro continuar acreditando que essas vaquinhas tão maravilhosas passaram pela vida a base de shiatsu e bebendo Original estupidamente gelada. É isso mesmo, o meu wagyu vem de vaquinhas do tipo “Bon vivant”.

Voltando a vaca fria, a propriedade entremeada do wagyu, é reflexo de “caminhos” bem fininhos de gordura uniformemente distribuídos por toda a carne fazendo com que ela produza um aspeto de mármore branco e vermelho (e um preço por kg que se multiplica por dez!)

Quando preparada “to perfection”, toda a gordura “se derrete” regando cada centímetro da carne e modificando de maneira mágica o sabor e a textura do filet. E meu Deus do céu! É um orgasmo gastronômico!!! Bota umami nisso...é uma experiência transcendental.

Vale o alerta! Nunca consegui encontrar nada nem próximo do wagyu no Brasil. E não adianta falar que comeu o Kobe beef tropical do Rubaiyat ou do Varanda Grill. Como o próprio nome já diz: é tropical. Pobrezinho, tá mais para um “bubble gum” que resulta pior que a carne convencional.

Bom, onde comer wagyu então?
Claro, o melhor wagyu que já comi foi no Japão. Mas curiosamente não foi em Kobe nem em Hida (fui para Kobe e não gostei do wagyu que comi lá). O grande campeão foi em um restaurante francês-japonês em Takayama. Estava tão maravilhoso que quando terminei o prato principal e o garçom lançou a famosa: E para sobremesa? Eu, com cara de inocente respondi: mais 250g de wagyu por gentileza… (precisavam ver a cara do garçom).

Fora do Japão, Dubai surpreendentemente merece uma menção honrosa. No “despampanante” hotel Al-Qasr, está o escuro restaurante MJ’s. O ambiente é agradável. O vinho OK para Dubai standards. E o wagyu é maravilhoso (principalmente o de rib-eye que é mais difícil de agradar que o de tenderloin). Para dar um empurrão final no delírio gustativo, o acompanhamento é um truffled mashed potato (purê de batatas trufado) que… melhor parar por aqui.

Enfim, delicioso. Divino. Umami na veia!
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Retirado do Wikipédia:
Wagyū (和牛?) refers to several breeds of cattle genetically predisposed to intense marbling and to producing a high percentage of oleaginous unsaturated fat. The meat from wagyū cattle is known worldwide for its marbling characteristics, increased eating quality through a naturally enhanced flavor, tenderness and juiciness, and thus a high market value. In several areas of Japan, beef is shipped with area names. Some examples are Kobe, Mishima, Ōmi beef and Sanda beef. Highly prized for their rich flavor, these cattle produce arguably the finest beef in the world[citation needed]. These different breeds produce beef that range from expensive (by any measure) to extremely expensive (about $500 USD per 150 grams of filet steak sold retail in Japan).
The wagyū cattle's genetic predisposition yields a beef that contains a higher percentage of omega-3 and omega-6 fatty acids[1] than typical beef. The increased marbling also improves the ratio of monounsaturated fats to saturated fats.

HISTORY
Japan
Wagyū were initially introduced to Japan as a beast of burden to help cultivate rice. By order of the Shogun, the cattle herd in Japan was closed and eating meat from any four legged animal was prohibited from 1635 to 1838. Because of Japan's rugged terrain and isolated areas, different breeding and feeding techniques were used such as massaging or adding beer or sake to their feeding regimen. It is suggested that this was done to aid in digestion and induce hunger during humid seasons but appears to have no effect on the meat's flavor. Massaging may have been to prevent muscle cramping on small farms in Japan in which the animals did not have sufficient room to use their muscles.[2]

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Filme: Persepolis (2007)

Filme: Persepolis


Umamis: 8

"Acidentes históricos e a estupidez de uma minoria ávida por poder, podem impactar a vida de todo um povo..."

Não era o filme que imaginava ser o primeiro do blog, mas é o que eu acabei de ver e não dá para não recomendar.

A primeira vista o filme combina a história da revolução islâmica do Iran com a descrição dos reflexos da revolução na vida de uma jovem iraniana. (o que já é razão suficiente para assistir e gostar do filme)

No entanto, o que faz Persepolis realmente especial são ingredientes mais sutis.

Primeiro o formato arriscado de desenho animado em preto e branco. É estranho, mas depois de alguns minutos não parece que estamos assistindo a um desenho e todos os personagens e lugares parecem incrivelmente reais.

Segundo a combinação de imagem e musica é muito intrigante. Não consigo expressar bem porque mas conseguiram muito umami nessa combinação.

Por último, com o olhar de quem vive há anos no Oriente Médio e visitou o Iran 'in loco', percebo que o filme retrata muito bem o semblante do povo iraniano, os rastros de um passado mais vibrante e a curiosidade de querer entender o mundo através de quem vem de fora.

Ao visitar o Iran, é possível notar um sorriso de quem traz na raiz uma sociedade amável e que evoluiu gradativamente criando raízes profundas. Uma juventude que lê em abundância nos parques públicos. Convites amáveis para visitar suas casas. Enfim, uma sociedade preparada para integrar-se ao resto do mundo e que aguarda com olhos esperançosos a chegada desse dia.

Desfrute o passei conduzido pela jovem Marji.

Dica: para quem não conhece bem o background histórico, vale a pena dar uma passada rápida no wikipedia para entender o contexto dos Shahs, comunismo, guerra Iran-Iraque, interesses do ocidente pelo petróleo, sequência de eventos e contexto político.
http://en.wikipedia.org/wiki/Iranian_Revolution

Irmãos ou zoológico?

Pelas minhas andanças pelo mundo, fiquei chocado ao perceber quão diferentes somos. Árabes não tem nada a ver com dinamarqueses. Japoneses nada a ver com americanos...nem com tailandeses que estão mais perto e também tem olhos puxados. Alemães nem de perto com brasileiros. E indianos então? nada a ver com nada.

Alguém consegue ver alguma semelhança entre o humor americano (“oh my God, that’s super awesome!”) com o humor italiano? E que tal semelhanças entre dança e expressão corporal de um alemão e um colombiano? E a pressão asfixiante de um japonês com pavor da vergonha coletiva versus o individualismo relaxado de um latino americano. Nem entre os latinos somos parecidos: não tem nada a ver o “joder macho que te pasa a ti” espanhol com “deixa a vida me levar” brasileira que permite uma favela ao lado de uma mansão no Morumbi.

Somos muito, mas MUITO diferentes. Quase não parecemos a mesma raça.... mais bem parecemos um zoológico!

Mas o capítulo das diferenças merecerá um blog futuro...

Uma vez, há muito tempo, escutei que quando pessoas ou grupos independentes chegam a uma mesma conclusão, essa conclusão tem maior probabilidade de ser verdade. Algo de verdade existe nessa frase.

Assim, apesar do mosaico que é o planeta, comecei a perceber quais são os comportamentos comuns entre povos tão distintos. E surpreendentemente encontrei muitos. Tais semelhanças me fizeram pensar que se existem pontos tão similares mesmo vindos de grupos culturalmente tão distintos, provavelmente esses padrões de comportamento reflitam verdades mais absolutas sobre o ser humano.

Concluí que quando existem padrões de comportamentos semelhantes independentemente da cultura, geografia e até tempo, talvez estejamos diante de uma janela para entendermos nossas ordens mais profundas e a programação do nosso DNA comportamental.

Abaixo, vou listar alguns deles (novamente: alguns merecerão blogs futuros...):

- “Produção” feminina: No Japão, Gueixas. Na Índia, o sári. No oeste, maquiagem, depilação, salão, etc... No Oriente Médio, maquiagem por debaixo de burcas e mesmo burcas estilizadas da Gucci. Independentemente do povo, cultura ou tempo, o sexo feminino está sempre intimamente ligado à sedução, às cores e à produção. Mesmo se voltamos no tempo, às sociedades indígenas ou medievais, esse padrão de comportamento foi sempre marcante. Um dos casos mais chocantes é o sociedade árabe, que mesmo com sua forte característica de “mutilar” e esconder a beleza feminina, as mulheres encontram uma maneira ainda que velada de responder a sua programação.

-Bairrismo”: Paulistas vs. Cariocas. Corintianos vs. Palmeirenses. Brasileiros vs. Argentinos. Catalães vs. Madrilenhos, Americanos vs. Canadenses. Indianos vs. Paquistaneses. Japoneses vs. Chineses. Sul Coreanos vs. Norte Coreanos. A lista é infinita, mas o padrão de comportamento é o mesmo. Novamente, em todas as culturas e em todas as épocas, o ser humano precisa se sentir parte de um grupo, de uma comunidade, a qual defende. Mas isso não basta, para completar sua programação também precisa sentir que existe um grupo para se incompatibilizar e atacar. Hum, interessante...

- Acreditar em “algo maior”: outro exemplo atemporal e “acultural”. Deus, Nirvana, Allah, Cristo, Buda, Mohammed. Não preciso ir muito além para entendermos que temos uma profunda necessidade em acreditar em algo maior (apesar de não existirem provas). Mas de novo, não é só isso, tendemos a acreditar que o “nosso” caminho é o único correto, e que todos os demais estão errados, sem pararmos para pensar que “nosso” caminho não foi escolhido por nós mas é o mero acaso da geografia de onde nascemos.

- Semelhantes em competição: Olimpíadas, copa do mundo, Formula 1, ... em todos os tempos e culturas, paramos para ver nossos semelhantes competindo.

- Líder e liderados: apesar de um belo conceito, a anarquia ficou só no papel. Em todos os tempos e culturas, vivemos em uma sociedade de líderes e liderados.

- “Continuidade e preservação: apesar de tudo jogar contra (bombas atômicas , armas biológicas, ódio, caos, etc...) temos uma mágica capacidade de pararmos tudo, retroalimentar-nos e priorizarmos a continuidade.

- O homem caça e sente calor a mulher cuida e sente frio: confesso que essa é mais polêmica e não esta no mesmo nível das demais, mas mesmo com todas as diferenças culturais o homem é mais seqüencial, monotemático e sente mais calor (disigned para a caça), enquanto a mulher é multidimensional, tudo ao mesmo agora, angulo de visão mais amplo e sente mais frio (designed para cuidar). E isso é do afegão ao sueco.

Como a lista é muito longa, de momento damos uma pausa por aqui. Retomarei no futuro.

Por hora, é reconfortante perceber que apesar do zoológico, sim que temos algo de irmãos...

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Livro: A Alma Imoral


Livro: A Alma Imoral

Autor: Nilton Bonder

Umamis: 9

“Há um olhar que desnuda e que reconhece que existem fidelidades perversas e traições de grande lealdade. Esse é o olhar da alma.”

Eu adorei esse livro. Li no mês passado e ainda me pego voltando para ler as partes que mais me impactaram.

O livro aborda vários conceitos ligados ao íntimo do ser humano.

O primeiro deles é sobre o papel da reprodução no comportamento humano. Nilton propõe que a principal missão do ser humano é procriar e que essa missão termina influenciando direta ou indiretamente a maioria dos comportamentos humanos. Também discute as diferenças de caráter qualitativo e quantitativo que a procriação tem para o sexo masculino e feminino. É quando estamos executando as nossas mais profundas ordens.

Como ponto principal, Nilton discute o equilíbrio instável (quase um conflito) entre: Tradição (moral, corpo) vs. Traição (Alma). Aqui, Nilton argumenta que a moral (tradição) foi criada pela humanidade para permitir uma competição “menos selvagem”. Porém, apesar dos benefícios da tradição, ela também se torna perigosa por acatar o status quo e não promover o desafio da quebra de paradigmas e como conseqüência a evolução. É ai que a tradição precisa ser traída trazendo progresso e uma nova tradição deve emergir desse novo estado. Pergunta-se: o que é melhor a traição ou a fidelidade mentirosa que alimenta a estagnação da alma?

O livro também trata de Longos caminhos curtos vs. Curtos caminhos longos. Quantas vezes não necessitamos entrar por longos caminhos para entender coisas simples que se tentamos concluir através de caminhos curtos, resultam frágeis e superficiais uma vez que carecem de vivência.

Enfim, achei um livraço. Sei que existe uma peça de teatro em São Paulo, que apesar de não ter visto dificilmente pode ser ruim.

A Alma Imoral só não leva 10 umamis porque na minha opinião intercala conceitos brilhantes com capítulos de conotação demasiadamente religiosa, principalmente na direção da vitimização do povo Judeu.

Mas isso, não deve ser um impeditivo para que se “scaneie” rapidamente por esse capítulos para desfrutar os conceitos tão profundo e verdadeiros abordados nessa leitura.

A pergunta não respondida: Quando manter tradição e quando trair? A resposta encontra-se em algum lugar no fundo de nossas almas...

domingo, 1 de agosto de 2010

Umami. Você sabe o que é?

Quando pequenos, nos ensinaram que existem apenas 4 sabores básicos: salgado, doce, amargo e azedo.

No entanto, há mais de cem anos, um japoneses chamado Kikunae Ikeda definiu que existe um quinto sabor muito importante: o Umami!

Esse quinto elemento está associado à saboroso, pungente, completo ou perfeito. Umami adiciona corpo. Adiciona prazer. É o parmesão na Itália, o jamón serrano na Espanha, shoyu no Japão.

O objetivo desse blog é simples: colocar ingredientes que proporcionem mais Umami na vida dos que passarem por aqui.

E quais são esses elementos? Bom, eles são pensamentos, ideias, filmes, livros, gastronomia, vinhos, viagens...

+ Umami para você também!