quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

De que lugar?


2012 foi um ano repleto de aprendizados e descobertas; mas talvez uma delas tenha se destacado das demais.


De que lugar?

De que lugar estamos fazendo algo?

Qual era a intenção primeira? Naquele primeiro instante. Aquela que ainda estava nua. Aquela que ainda não estava "vestida" das nossas segundas intenções e de nossas racionalizações.

Na primeira intenção está o autêntico. Que por autêntica é imperfeita. E nessa conversa com o imperfeito está o desconcerto. Na primeira intenção pensamos estar protegidos pela individualidade e pelo fato de ninguém mais saber delas…quando na verdade estamos protegidos pelo contrário, por ser sabido, sentido e compartilhado por todos. Da primeira intenção não se escapa. Fica estampada em nossa testa.

E assim ficamos no meio dessa dança. A dança entre presença e existência. De corpo versus alma.

Na presença alimentamos nosso Ego. "E justo quando esse Eu se faz presente, existe uma carência de nós mesmo". Restringir nossas "fomes" interiores não parece importante para a presença, mas é fundamental para a existência.

Para existência, temos que abrir mão das recompensas. Temos que fazer não para nós mesmos. Temos que confiar na vida, assumir riscos, acreditar e abrir espaço. O tecido da existência não é estar o tempo todo consciente e protegido, mas perceber-se reverberando no externo, roçando-se com o mundo, vivendo no outro e através do outro. Quem muito se guarda, aparentemente não se corrói e saí ileso. No entanto, este vai gradativamente perdendo o corpo, cuja natureza é para ser gasta, raspada e atritada com a vida. É desse atrito que tanto fugimos que está o prazer existencial de usar-nos e desgastar-nos com a vida. E é assim, que compreendemos que a essência verdadeira está no uso e não na posse. E que a existência quiças nos sai mais cara que a presença, mas é ela que nos mantém Vivos.

A existência humana vai se dando por essa capacidade de culpar-se e desculpar-se, percebendo a causa das nossas próprias ações.

E o que podemos fazer sobre tudo isso? Podemos nos manter consciente e nos aparelharmos para que o nascimento da primeira intenção esteja ressonante com o fluxo saudável da vida. Não é negar o inimigo, mas sim, reconhece-lo. Reconhecer nossas imperfeições, nossas debilidades, nossa natureza humana e imperfeita. E ao não nega-la, vamos nos equipando para melhorar nossa capacidade de lidar com essas imperfeições. Ao mesmo tempo, vamos modificando o lugar de onde vem as primeiras intenções. 

E a partir daí, o importante é constantemente sustentar e revitalizar esse lugar mais saudável de onde nascem as primeiras intenções. É nesse exercício que se opera a verdadeira transformação do indivíduo. Um exercício de existência, e não de presença e sobrevivência.

Não seria absurdo dizer que no momento em que a consciência fica impedida por si mesma, naquele lugar onde ninguém está vendo, como num exercício autêntico de auto-moral, nesse momento, conhece-se uma presença que não é a do Eu. E é nesse exercício autêntico de alteridade em nossa consciência que se exercita o verdadeiro Religare.

Na alvorada do Eu, está o crepúsculo de Deus.

E tudo isso deve se dar de maneira verdadeira e genuína. É tocando e provando do mundo e ao mesmo tempo renunciando a ele que damos conta de nossa alma e de nosso corpo. Se exageramos na alma, vivemos um mundo imaginário. Se exageramos no corpo, vivemos apenas na presença, mutilamos a existência e ficamos reduzidos a solidão do Eu que é vão e oco.

O verdadeiro arbítrio não é mental, não é do mundo dos pensamentos. O verdadeiro arbítrio é sim do coração. 

Lá estava a primeira intenção, nua, antes de ser vestida pelos pensamentos. Nos pensamentos podem morar inúmeras intenções disfarçadas de disfarce do disfarce, porque os pensamentos se enredam e podem conviver uns com os outros. No coração, no entanto, no âmago do ser, há sempre uma única intenção. A primeira. A nua. Parte arbítrio, parte intuição, parte súplica, a intenção do coração é a que determina um livre, espontâneo e autêntico arbítrio. É o lugar real de onde agimos.


De que lugar estamos vivendo nossas vidas? 



PS: Muitas partes desse texto, não são de minha autoria mas sim extratos retirados do excelente livro "Segundas Intenções" do Nilton Bonder. No entanto, os trechos foram concatenados para passar uma mensagem distinta do livro. Nessa mensagem, o "link" com a pergunta "De que lugar fazemos algo?" foi inspirada nas conversas com um bom amigo que conheci em 2012. Dedico esse texto a ele.

domingo, 1 de julho de 2012

Amor Romântico x Amor Real


Amor Romântico x Amor Real

Há algum tempo, escrevi sobre Intimidade. Hoje, contando com a quilometragem de mais alguns anos, quero complementar aquele texto com o que talvez seja um dos maiores conflitos dos tempos modernos: Amor Romântico vs Amor Real.







O que é o Amor Romântico? É aquele sentimento de “fall in love”; de se apaixonar. Ele invade nossas vidas sem pedir permissão; quando menos esperamos. Ele nos possui contra nossa própria vontade. Nesse momento nosso mundo vira de cabeça para baixo, nossos valores são trocados. Mudamos nossas prioridades, re-arranjamos nossas lealdades e a maneira como usamos nosso tempo.



Nesse momento, quase que deixamos de ser donos de nós mesmos...

O Amor Romântico é como uma poção mágica que nos da uma sensação de supernatural e super-humano. Tem essa qualidade de ser “out-of-control”, na qual nós não o criamos, nós não o controlamos, nós não o entendemos. Ele apenas acontece.


Quando nos apaixonamos, nos sentimos completos, como se a nossa parte faltante tivesse retornado. Nos sentimos especiais, como se tivéssemos sido erguidos do mundo ordinário. A vida fica repleta de intensidade, glória e êxtase.


É uma experiência de transcendência quase “religiosa e espiritual”.


E é exatamente aí onde reside um enorme perigo. O Amor Romântico é de fato uma troca de valores. É o desejo de experimentarmos nossa alma através de outra pessoa. Aprisionamos nossa alma no outro.


Nos tornamos completamente ocupados em projetar nossa alma na outra pessoa e nos esquecemos de valorar a pessoa que realmente está ao nosso lado. Colocamos no outro, toda nossa demanda “egoísta” de perfeição, de significado, de nos sentirmos especiais como seres de um mundo não-ordinário e não-terreno.


Cometemos um dos maiores pecados. O pecado contra a consciência. Enxergamos o parceiro como nossa projeção e ilusão e não como quem ele realmente é.


No entanto, manter esse estado de romance e êxtase consome muita energia. É um equilibrio instável. Invariavelmente, mais cedo ou mais tarde, nos despertamos no jardim do ego. Silencia-se a música e paramos de bailar a dança da Ilusão. A poção mágica expira.


E esse é um momento crucial. Abre-se uma grande oportunidade na qual a maioria de nós falha. Nesse momento temos a oportunidade de regressar a Anima ao local que ela sempre deveria haver estado. Trazer de volta a campana sagrada à catedral. Temos a oportunidade de declararmos morte ao ego e passar a valorar a pessoa que está conosco da maneira como ela realmente é, ordinária, com seus defeitos e suas qualidades.

Mas nesse momento, reside um dos maiores paradoxos dos nossos tempos. Majoritariamente, abandonamos o relacionamento em busca de um novo “amor”.


A lei é o Amor Romântico. Nada é mais importante do que “estar in love”. Ele é o certo. Ele é o bom. Nossa cultura nos diz que ele é que nos faz sentir especiais e diferente dos demais. Lutar por ele é a “única coisa que faz sentido”.


O Amor Romântico tem essa propriedade de moralidade reversa que nos permite sentir que fazemos o correto mesmo quando fazemos o equivocado. Nesse momento, o sofrimento inunda nossas vidas e não queremos nem morrer, nem viver...nos tornamos seres moribundos; seres mortos-vivos.


No entanto, para alguns poucos, essa é a oportunidade de graduar o Amor Romântico em direção a um relacionamento verdadeiro. A oportunidade de transmutar o Amor Romântico em Amor Real.


Para viver o Amor Real, devemos retornar nossa alma para nosso mundo interior e compreender que existem coisas que só podem ser vividas em nosso interior, em nossa espiritualidade e não projetadas ao mundo exterior.


Retornar a alma à catedral, é um ato de sacrifício. Significa sacrificar algo no nível do ego. Sacrificar algo de êxtase, de perfeição, de glória. E para o ego, ele sente como se fosse uma morte. Requer-se humildade do ego para abrir mão dessa infinitização e inflação do amor.


Nesse momento, abrem-se as portas para o Amor Real. E aí, elas estão escancaradamente abertas.


Mas o que é então o Amor Real?


Amor Real é como cultivar um Bonsai. Requer paciência, tempo e dedicação.


É um ato de humildade, muitas vezes não tão extasiante como o Amor Romântico. Demanda conexão para trazer o Amor de volta a terra. Carrega nossa vontade genuína de dividir tarefas mundanas e ordinárias. Encontrar significado no simples. Deixar de demandar eternamente o drama de intensidade extraordinária em tudo, tão comum no Amor Romântico. 

Encontrar prazer no menos intenso, no mais natural: na conversa tola ao final do dia, na companhia do dia a dia, no apoio oferecido nos momentos difíceis e nas palavras suaves de compreensão. Também é encontrar prazer nas tarefas mais mundanas e menos românticas como: controlar o orçamento,  levar o lixo para fora, acordar a noite para levar alguém ao hospital, atender a compromissos indesejados, fazer concessões, ir ao supermercado, etc...


O Amor Real está preocupado em fazer o outro feliz; e não a esperar que o outro seja responsável pela nossa felicidade. Ele está dirigido a outra pessoa e não ao próprio ego.


Quando amamos verdadeiramente, sentimos que não sou EU quem AMA, mas o AMOR FLUI através de mim. Não é um verbo, não é um ato, mas sim um estado de sentimento. 
Amor é uma força que emana de nós. É relação, é conexão com o parceiro, uma identificação com a outra pessoa que simplesmente flui de nós e através de nós.


Não demanda esforço. Não demanda atos. “Love, and keep silent”.

Não procura controlar nem impor. De alguma maneira, confia no desconhecido; confia no fluxo natural da vida. "Let it GO". "Let it FLOW".


Nesse amor, não existe esse estranho paradoxo de desejar que o outro sofra se não estiver ao meu lado. No Amor verdadeiro, desejamos que o outro esteja feliz e em paz seja qual for o caminho que decida seguir na sua vida.

Nele, baixamos a espada com todo seu poder e controle e aprendemos a despertar a musicalidade da arpa e da intuição.


No Amor Real amamos por completo. Não apenas as qualidades. Não amamos menos devido aos defeitos do outro. Amamos por causa das qualidades E dos defeitos do outro. Deixamos a tendência natural de amplificar os defeitos esquecendo das qualidades; passamos a aceitar e "rir" dos defeitos por valorizar as qualidades únicas e raras do companheiro.

Esse Amor não se perde pelos caminhos vulneráveis e voláteis do fresco e do novo. Tampouco das mudanças repentinas de opinião. Está pautado em tecido trabalhado, de infinitas tramas, na qual está construída toda a história de um relacionamento, toda a riqueza de uma intimidade. Ele valoriza a dedicação, a dificuldade e a história de esforço para se construir esse tecido tão complexo e rico.

Esse Amor verdadeiro anda de mãos dadas com o Perdão. É primo-irmão da Tolerância. É o melhor amigo da Persistência. Inimigo do julgamento.


O Amor Real é uma daquelas poderosas forças que tem a capacidade de transformar o ego. Tem o poder que é capaz de acordar o ego para a existência de algo mais além. O Amor, por natureza, é o exato oposto do egocentrismo.


Para ser capaz de experimentar o Amor Real, é preciso se tornar maduro quanto às expectativas reais em relação a outra pessoa. Significa aceitar a responsabilidade pela própria felicidade ou infelicidade e não esperar que a outra pessoa nos faça feliz, nem culpar o outro pelos nossos mau-humores e frustrações.


O Amor Real é inseparável de comprometimento, da estabilidade, da conexão e da amizade. A essência do Amor Real, não é usar o outro para nos fazer feliz, mas servir e valorar a pessoa que amamos. E nesse momento descobrimos, para nossa surpresa, que o que mais necessitamos na vida não é tanto ser amados, mas simplesmente AMAR.


sábado, 29 de outubro de 2011

Risotto de Zucchini al "pata negra"

Tá com problema de orgasmo?...

Recomendo mangiare essa maravilha.

Para celebrar o aniversário do meu grande amigo Biro, e inspirado nas receitas do meu outro amigo Ice, aí vai:

Risotto de Zucchini al "pata negra"!

Não tô acreditando...

Se eu escrever algum adjetivo vou violar o prato, então me resumo aos ingredientes:

- Arroz arbóreo
- Zucchini
- Jamón pata negra da espanha comprado no maravilhoso Andreu em Barcelona (não vale jamón de piracicabe qua vende no Marché)
- Alho fatiado e minced
- Charlotte/cebola fatiada e minced
- Vinito bianco
- Alecrim (pode ser basílico mas tô na fase do alecrim)
- Pinoli triturado (sem dó)
- Sal marinho
- Oleo de Oliva
- Parmiggiano reggiano

 E lágrimas de felicidade!

Birão, feliz aniversário.

"Envelhecer é como subir uma enorme montanha. Quanto mais alto, mais nos sentimos cansados; porém, mais amplas e serenas são as vistas"

+Umami para todos.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Iceland. Shhhhh.....



Amplitude, imensidão, silêncio, cores, contrastes, natureza, isolamento, paz...

É muito difícil descrever o que a Islândia tem de especial. Qualquer adjetivo perde  dimensão ou perspectiva. Qualquer foto parece um mero esboço distorcido da realidade. Lembro-me de que a cada foto tirada, olhava frustrado para câmera e pensava: “É, essa vai ter que ficar registrada na memória...”

Os horizontes e os contrastes da Islândia ficam tatuados na memória e na alma. Por vezes é difícil para os olhos lidarem com o que está adiante. A Islândia embriaga.

A todo tempo, o entorno, que é uma materialização real do mundo do Senhor dos Anéis, insiste em  nos recordar de nossa insignificância na condição individual; é como se não importássemos para nada, reduzidos a um minúsculo pontinho diante de tamanha grandiosidade.

Um outro efeito interessante, é o persistente questionamento de nosso modelo de metrópole. Em muitos momentos, ao olhar perdido para aqueles horizontes absurdos, me lembrava de São Paulo, da sensação de falta de espaço, da falta de ar, da falta de vista horizontal, do “ensardinhamento” diário, da asfixia do tempo, do trânsito, da poluição e pensava: “como conseguimos viver assim???”. Definitivamente não é natural.

Nas mega-metrópoles, vivemos em uma constante asfixia de o que vamos fazer, com quem nos vamos encontrar, para onde vamos sair. Existe uma constante necessidade de nos distrairmos pensado na próxima atividade. Vamos de evento em evento como uma peteca “kickando”. Nenhum deles muito legal, todos ok, curtos, com pessoas oks e com o próximo plano em mente. E assim passa mais um dia de maneira suportável. 

Na Islândia não, acontece o contrário: não sentimos vontade, nem pressa de ir para lungar algum. Na verdade é uma moléstia deixar de desfrutar qualquer parada. A vontade é de ficar por horas e horas; dias, ali, em silêncio, apenas existindo. Vivendo devagar...

E não. Não se trata de um silêncio melancólico ou triste. É um silêncio calmo, que preenche e que confere paz.

Encontrei muitos locais. No meio do nada. Em fazendas, cuidando de seus cavalos. Em povoados minúsculos circundados por uma natureza indescritível. E sempre lhes perguntava: como é viver na Islândia? Respondiam: O que você acha? (e apontavam ao redor.. com um olhar que desdenha: “você não entenderia...”)

Gratas surpresas
  • Dirigir “lost in iceland”: Apesar de espetaculares, nenhum dos highlights ou dos pontos turísticos é a atividade mais legal na Islândia. Surpreendentemente, simplesmente dirigir, perdido no meio do nada, é de longe o mais cool na Islândia. Islândia é o conjunto e não um ponto. Durante toda volta na ilha, você dirige praticamente sozinho. Perdi o controle do carro em vários momentos, pois meus olhos se perdiam nas paisagens. Acredito que dirigir só perca sua posição no ranking para ficar lendo, cozinhando ou sem fazer nada, por dia inteiro em um recanto perdido no meio do nada...(mas esse vai ficar para ser testado numa segunda vez)

  • Almoçar isolado no meio do nada: durante o trajeto, existem vários pontos sem ninguém, com uma mesa e cadeiras de madeira, no meio de montanhas, lagos e fiordes. Pode-se parar o carro, descer, almoçar circundado de um entorno de tirar o fôlego.

  • Música: a música na Islândia é outra grata surpresa, com influência de Norah Jones, Jack Jonson, misturado com Pink Floyd e Loreena Mckennitt eles fazem uma música alternativa e meio experimental, por vezes underground mas de muita muita qualidade. A música do vídeo acima é um exemplo. Recomendo Sin Fang, Snori Helgason e Rokkurro. Na rua da igreja em Reikjavik tem uma loja de CDs amarela chamada 12 Tónar que é muito bacana; tem uma engenhoca de fazer café de 19..e lá vai bolinha. A música ao vivo nos bares locais também é de qualidade.

  • Highlights favoritos: Golden Circle, Jökulsárlón Glacier Lagoon, a maioria das cachoeiras e especialmente Dettifoss, a região dos fiordes à leste, Námaskarð, as vistas do alto de Vik e Snæfellsnes. Fotos, no meu FB link.



Curiosidades
  • Cobains: As ruas de Reykjavik estão cheias de Kurt Cobains meio que “roceiros”. É um monte de  jovem loiro underground, com franjas a la Smash, e calças caindo pelos joelhos. Engraçado.

  • Self-service: Os “icelandicos” (como chamo carinhosamente os islandeses) são obcecados pelo self-service. Além dos esperados self-service nos postos de gasolina e empacotando no supermercado, eles levam o conceito mais além: carregue você mesmo pelas escadas suas malas até o terceiro andar do hotel, pegue sua comida você mesmo, dentre muitos outros. E não é por mal, dá a impressão que os “icelandicos” vêem o excesso de “servencialismo” como algo desigual e não desejado na sociedade.  É o socialismo sem ser imposto. Assim, se você vem em um restaurante, eu te dou comida. Se vem em um hotel, te dou um quarto. Nada mais. Apesar de não ser nosso costume, achei questionador. 

  • Honestidade e civilidade: Os “icelandicos” são bastante civilizados, austeros e civilizados. Ainda mantendo um saudável are de roceiro de saudade pequena, as coisas funcionam e se pode confiar 100%. Por exemplo, percebi que esqueci meu cartão de crédito em um restaurante e só liguei para lá para eles cortarem o cartão horas e horas depois. Sem preocupação. Já nos bares de um pais verde e amarelo...

  • Free Wifi: Quase todos os hotéis e restaurantes/cafés tem Free Wifi e normalmente com boa velocidade. Not bad.
Surpresas negativas
  • Custo: Fui imaginando que seria barato depois que o país quebrou em 2008, mas o cartão de crédito ficou dodói... Hotel e comida tem custos bem elevados...

  • Hotéis: Os hotéis na Islândia estão divididos em 2 grupos: os que tem água com cheiro de ovo podre e os que não. 90% deles são os com cheiro :(. Extremamente desagradável. Nunca se tem a sensação de real limpeza. Os destaques ficam para o Hotel Reykjavik Centrum (bem melhor que o de mesmo preço Reykjavik Residence Apartment) e para o simpático Vogafjos-Guesthouse Lodging na região de Myvatn, que possui uma área de café da manhã envidraçada, com vistas para o lago e para as vaquinhas da fazenda do hotel. Se for ao passeio de baleias em Husavik, não ficar em hipótese alguma no Fosshotel Husavik Lodging (apesar de sua boa colocação no tripadvisor)

  • Moscas em Myvatn: pelamordedeus...essa sim foi uma surpresa negativa! Apesar do lugar ser maravilhoso, pouco pude desfrutar dada a quantidade infinita de moscas. Alguns mais avisados passeavam usando um chapéu que tinha uma redinha em volta do rosto. Mandatório, sem essa redinha, pouco se desfruta da beleza da região próxima ao lago.

  • Comida local: (ler em “Gastronomia”)

  • Highlights menos interessantes: Blue Lagoon (é basicamente um piscinão de Itaquera repleto de Corinthiano loiro). Dimmuborgir, Hraunfossar também são médios. Alguns me matariam, mas as baleias em Husavik são “nice to have” porém dispensáveis.
Gastronomia
  • Comida local: Tenho por teoria que “loiro + olho azul + frio = Comida Ruim”. Bons exemplos dessa teoria são Rússia, Europa do Leste e Alemanha. A Islândia não é diferente e é bem-vinda ao grupo com louvor. A comida local é baseada em peixes (muito salmão defumado) e também inclui baleia, puffin e o absolutamente intragável tubarão (a não ser que você pense que pode gostar de uma comida com forte sabor de amoníaco). Os “Icelandicos” adoram comer pepino, pimentão e ovo cozido frio no café da manhã. Lamentável. 

  • Baleia: A baleia quando bem preparada é bastante saborosa. É vermelha escura, se parece mais com carne do que com peixe, mas com um sabor mais leve. Tem um boteco em Reikjavik chamado Islenski Barinn que prepara uma entrada de baleia deliciosa.

  • Hot Dogs: OK, eu não sou lá muito chegado em cachorro quente. Mas os hot dogs na Islândia são muito saborosos. É um hot dog simplão (não aquela mandala que comemos no Brasil), com uma salsicha de carneiro, e um molho local que acredito vai bacon ou algo defumado. Impressive. Em Reykjavik, tem um local especial para comê-los: uma barraquinha vermelha, entre o Hotel Radisson Blu e o escritório do Icelandic Excursions. Está sempre com fila, e ficou tão famoso que foi o primeiro lugar que o Bill Clinton visitou quando chegou em Reykjavik (tem uma foto dele comendo o hot dog dentro do Kiosk)

  • Cerveja: Curiosamente só tomei cerveja estupidamente gelada em 3 países: chopp no Brasil, Imperial em Portugal e Draught beer no Islanski Barinn na Islândia (onde a caneca vem completamente coberta de gelo).


  • Restaurantes: os destaques vão para Fish Company, Fish Market e claramente meu boteco preferido, o Islanski Barinn. Evitar o número 1 do tripadvisor Harry’s (afastado, ambiente pobre e insípido). Ah! O único restaurante de tapas/art-gallery na região dos fiordes também é interessante.


Ficou Faltando :(
  • Northern lights: a afamada aurora borealis ocorre com mais freqüência no inverno bravo.
  • Puffins: uma mistura de pássaro com pingüim (bem simpático) que deixou a ilha 2 semanas antes d’eu chegar e não me avisou.
  • Vulcão com lava em atividade: o último que tinha lava laranja e dava pra ir de helicóptero  já havia apagado...
  • Askja: Uma cratera com spring water  como a blue lagoon

Iceland é mágico. É único. É top 3 +Umami travel!!!! Espero um dia poder voltar a estar “Lost in Iceland...”


sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Tagliolini al Nero di Seppia con Asparagi e Scampi

Bom, mais um post gastronômico rápido na sequência...

Cheguei a pouco de uma das viagens mais legais que já fiz (com certeza será o próximo post) e resolvi preparar um "late lunch (6pm)" depois de um brando dia de "outono Kuwaiti" na piscina...

Tagliolini al Nero di Seppia con Asparagi e Scampi!

Delicioso e cai bem levinho.




Sem mais delongas, 'bora pros ingredientes:

- Óbvio, o tagliolini já com nero di seppia
- Óleo de oliva virgem (eu coloco bastante)
- Camarões tigre ou langostinos (não vale congelado, já que vai fazer, faz direito e compra fresco do dia)
- Aspargos (só a parte bem da ponta)
- Chalote triturada
- Tomate em cubos
- Tomates em metades "estourados"
- Alho triturado
- Alhos em finas fatias
- Cebola
- Sal marinho
- Pinoli tostado (em casa)
- Alecrim (fresh)
- Basílico (fresh)
- Salsinha (um pouquinho)

Como sempre, as quantidades, tempos, etc, são óbvios, adaptáveis e vão acontecendo...

Ah, o parmesão ao lado foi pura força do hábito....é claro que não é para colocar que destrói o sabor da pasta.

mmmmm......


sábado, 20 de agosto de 2011

Risotto trufado com Bock!

Blog rapidinho para dividir uma descoberta...

Comecei a preparar um risotto trufado e na hora H não tinha vinho branco.

As vezes, a necessidade é o motor da criatividade...

Olhei para geladeira e vi duas garrafas de cerveja bock (não é bem bock, é aquela dourada bem escura).

Ideia: substituir o vinho pela cerveja.

E essa foi a novidade (pelo menos para mim, pq todo mundo já deve saber; em todo caso...): Ficou espetacular! (arrisco dizer que melhor que o vinho branco para o meu paladar)

Alguém pode perguntar: cerveja bock no Kuwait? Sim e não é do mercado negro! A cerveja usada foi uma cerveja caseira, feita com fermentação do malte em um equipamento "rocambolesco". É mais um toque original pro risotto...

Bom, os ingredientes são:

1) Trufas / Shiitake:
- Trufas e/ou shiitake (eu usei os 2)
- Aspargos verdes
- Cebola
- Azeite trufado bianco (comprado no Dean & Deluca, que se não abrir até eu voltar para SP é capaz d'eu abrir uma filial)
- Manteiga

2) Risotto:
- Arroz carnaroli (também do Deluca)
- CERVEJA BOCK (ou tipo da Serramalte)
- Cebola
- Broth de vegetais
- Manteiga
- Sal trufado (comprado em Lucca)

3) No final:
- Mistura tudo
- Adiciona um pouquinho de cream
- Adiciona parmesão
- Ah, eu deixo em fogo bem baixo por muito tempo e no final aumento bastante a T para ficar bem quente (hoje não, mas as vezes esquento o prato também para manter a temperatura)
- E voila: Prato e mesa

 Quantidades? Como "bom" engenheiro não tem a mais mínima ideia. Vou colocando bem pouco de cada coisa e vou provando até a contribuição daquele ingrediente se fazer presente. Parece caótico, mas funciona...




sábado, 25 de junho de 2011

Sobre a Brevidade da Vida (Sêneca)


Ultimamente, com o advento da leitura digital, tenho o hábito de abrir um livro, ler 5-10 paginas e pular para outro até encontrar um que me “prenda”.

Assim que comecei a primeira linha de “Sobre a Brevidade da Vida” só consegui parar quando tentava virar mais páginas depois que o livro já tinha terminado.

Wow! Que obra prima!

“Sobre a Brevidade da Vida” é de autoria do filósofo romano Lúcio Anneo Sêneca (4 a.c. – 65 d.c.).  É uma coletânea de cartas a Paulino, na qual o tema principal é discutir como conduzimos a utilização de nosso tempo durante a vida.

Sêneca argumenta que a vida, ao contrário do que parece, não é curta, mas que nós a fazemos curta.


São inúmeros os temas fascinantes discutidos por Sêneca. Abaixo, colocarei a “minha versão” resumida dos meus preferidos:

Tempo – a riqueza mais preciosa: Meus amigos sabem como esse tema anda atual nas minha conversas. Sêneca defende que o tempo é a riqueza mais preciosa. A má utilização do tempo é o ingrediente responsável por tornar uma longa e generosa vida em uma vida breve e medíocre.

“Parece que nada se pede e nada é dado. Brinca-se com a coisa mais preciosa de todas (o tempo); contudo ela lhes escapa sem que percebam, pois é incorporal e algo que não salta aos olhos, por isso é considerado desprezível, e em razão disto não lhes atribuem valor algum. Os homens concentram seus prazeres e esforços na aquisição de bens materiais, mas ninguém da valor ao tempo; usa-se e abusa-se dele a rédeas soltas, como se nada custasse. Porém, quando doentes e próximos do perigo da morte, prostram-se de joelhos e estão prontos para gastar todos os seus bens em troca de um pouco mais de tempo de vida.”

Ocupação – o vilão: não a ocupação saudável, mas a compulsiva, aquela que te rouba a tranquilidade e mais se assemelha a uma doença, é o inimigo número 1 da boa utilização do tempo. Nos distrai como uma televisão, nos anestesia como uma droga e nos desvia da responsabilidade de sermos os verdadeiros condutores da utilização do nosso tempo.

“ Enquanto estás ocupado, foge depressa a vida...”

“Um homem ocupado não pode fazer nada bem: não pode se dedicar a nada em profundidade e plenitude, uma vez que seu espírito, ocupado em diversas coisas, não se aprofunda em nada, mas ao contrário, tudo rejeita, pensando que tudo lhe é imposto.”

Ócio – a ocupação indolente: achei fascinante a maneira que Sêneca adverte não apenas o ocupado, mas também o ocioso, seja por investir seu ócio em tarefas e assuntos não relevantes, por não terem meta ou por terminarem escravos de seus vícios como a embriaguez, a gula e a sensualidade (não de uma maneira saudável e equilibrada, mas sim como uma escravidão mórbida onde se perde a virilidade e apodrece). Sêneca coloca exemplos relacionados a sua época, como colecionador de brozes coríntios; assistir as lutas entre homens que se estapeiam; os que passam todo o tempo preocupados com pentes, espelhos e roupas; os que organizam rebanhos por ordem de cor e idade; os que passam todas as horas deitados ao sol. (Bem, os exemplos não são tão fora de época afinal).

“ O ócio de alguns é ocupado: mesmo em meio à solidão, mesmo quando afastado de todos, vivem em um estado, não de ócio produtivo, mas sim de ocupação indolente.”

Esse ponto do ócio, me pareceu especialmente interessante. Sempre vejo as pessoas reclamando por estarem ocupadas e lhes faltar tempo. Agora, morando no Kuwait, conheço inúmeros expatriados com uma generosa quantidade de tempo livre, com poucas horas laborais e poucos compromissos sociais. E o que acontece? Ao invés de utilizarem esse presente com inteligência, terminam por reclamar que não tem o que fazer, que estão aborrecidos, que a vida é chata.... o ser humano é mesmo curioso...

Outros temas interligados: por fim, o livro trata de tantos outros temas interligados, como a importância  de se estabelecer metas; a prisão às conquistas;  a prisão à opinião alheia; o quanto as pessoas pulam de um prazer para outro; e a importância de se cultivar um certo isolamento saudável do ruído da multidão e da busca constante da tranquilidade e paz.

Sobre esses últimos dois pontos, deixo uma frase de minha autoria, que sempre pensei em escrever um blog sobre ela (espero ainda escrever), mas que encaixa perfeitamente no contexto desse livro.

“A Paz, e não uma sucessão de prazeres, é o sinal da verdadeira felicidade.”

Bom, espero ter dividido elementos para encorajar a leitura dessa obra fascinante.

Outro aspecto que gostei, é que fica claro na leitura do livro, um tom que passa longe de ser um “falso moralismo”. Se alguma ideia moral é apresentada, não é por querer parecer diferente, superior e nem conferir um ar repreensivo. Fica claro que quem escreveu, é um profundo conhecedor dos efeitos humanos da má utilização do tempo. Fica evidente que é escrito por alguém inteligente, de bom senso e que viveu as diferentes facetas do percurso vida. Alguém que sabe, que algumas moralidades são corretas, não porque são impostas como regras, mas sim porque são “egoisticamente” saudáveis para o próprio indivíduo.

Por último, apesar de já ser valioso o suficiente em seu conteúdo, achei fascinante observar o quão idênticos são os seres humanos de agora e de dois mil anos atrás. Como pode ser que depois de eletricidade, revolução industrial, computadores, genética, telefones, televisão, internet, Facebook, etc... sejamos tão iguais no que realmente importa? Na verdade, que bom! Senti uma certa justiça (e alívio) nessa constatação.

Boa leitura!