Filme: Caramel (Sukkar banat)
Diretora (e principal atriz): Nadine Labaki
Umamis: 7
Sei que as recomendações de filme estão um pouco “Middle Easterns”, mas após assistir o filme Caramel no final de semana passado e ir a Beirute nesse final de semana me sinto quase em dívida para fazer uma revisão tripla: filme-cidade-viagem.
O filme é uma espécie de “Sex-in-the-City” libanês. Com personagens muito bem construídos, o filme retrata a vida de 5 mulheres libanesas na sua vertente mais árabe e menos mediterrânea.
Apesar de tratar de temas femininos universais, o mais impactante é o retrato impecável da mulher árabe com viés liberal. Utilizando ingredientes como amores proibidos, repressão sexual, pressão social para casamento x idade, o filme pinta com maestria a mulher árabe que está na intersecção do liberal e da repressão.
A construção dos personagens é genial:
- Layale: apaixonada por um homem casado que promete que irá abandonar a esposa para ficar com ela (familiar?)
- Nisrine: como está para casar, necessita fazer uma cirurgia para simular que ainda é virgem (seguramente não-familiar...)
- Rima: em processo de descobrir-se lésbica (cada vez mais familiar...)
- Jamale: preocupada por passar dos 30+’s e não conseguir casar (bastante familiar)
- Rose: na batalha entre amor e cuidar de sua irmão mais velha e “louca”
Seis anos de Oriente Médio, permitiram-me conhecer de perto a mulher de Caramel. Uma mulher que na ânsia de combinar força com feminilidade, acaba por perder esse equilíbrio e junto com ele bastante da feminilidade através de uma atitude ríspida, uma maneira agressiva de se comunicar, uma maquiagem exagerada assim como a cor de suas roupas.
Essa mulher – bastante real - está retratada em Caramel.
Viagem: Beirute (Líbano)
Há alguns anos atrás, a CNN colocou no ar um documentário que se intitulava: “Brazil – a country of contrasts”. Apesar de estar de acordo com a qualificação, penso que poucos países são sinônimo de contrates como aqueles situados na transição Ocidente – Oriente (Turquia, Israel e Líbano)
Dono do título de “inventores” do alfabeto (fenícios), o Líbano reúne 3 línguas (Árabe, Francês e Inglês); Islâmicos x Cristãos; Líbano x Síria; Hezbollah, Shiitas x Sunitas, OLP, neve x mar, sheesha x balada... Está bom para contrastes? É um caldeirão pronto para explodir (e a cada par de anos explode).
Beirute é uma cidade bastante difícil de rotular, mas eu tentaria algo como:
“Uma ilha de mediterrâneo em um mar de Islam”.
Beirute é uma espécie de cidade-Phoênix que se reconstrói das cinzas para sempre voltar a oferecer um ambiente descolado e vibrante.
Ao contrário da fama, a gastronomia de Beirute nunca me emocionou em nenhuma das minhas passagens pelo Líbano. No entanto, se há algo que os de libaneses sabem fazer é: night. (alerta, a noite de Beirute é disputada e requer indicação para entrar nos lugares mais cool).
Apesar de ser um long-shot, sob alguns aspectos, também sempre fico com a sensação de que Beirute tem um “que” de São Paulo pequenina: Zero urbanismo, mas com uma colcha de retalhos de estilos escondida detrás do caos visual.
Não vou focar nas recomendações óbvias (cafés na reconstruída downtown, Corniche com os pigeon rocks e a Gruta Jeita).
As três recomendações da viagem são: Baalbek, Behind the Green Door e Sky-bar.
Baalbeck: o site está a 1h45 de Beirute e possui ruínas romanas em incrível estado de preservação com destaque particular para o Templo de Bacco (sim, o mesmo deus do vinho e do bacanal). (Fotos em breve)
Behind the Green Door: Ao final da vibrante Gemmayzeh street, uma mistura de Sub-Astor com Café de La Musique em seus tempos áureos. Freqüência garantida da high-society libanesa (que apesar de o ser-la, não tem nada de “nojentinha” e mantém naturalidade e diversão).
Sky-bar: consiga alguém “in” para reservar com semanas de antecedência. Um bar/disco a céu aberto que lembra o Reina no Bosphorus em Istambul, só que menos turístico e mais exclusivo. A música é impecável e o visual é show. Abaixo, link do vídeo de 30s realizado in-loco com a câmera do telefone (se estiver em público, abaixe o volume do computador).
http://www.youtube.com/watch?v=icmwbxrBd8s
Como as últimas duas recomendações são de night, vale a ressalva de que ultimamente estou bastante "fora do circuito", mas essas duas são digamos "de bom gosto". (apesar de ainda assim demandarem duas semanas de recuperação e repouso :-)
Por fim, mesmo que óbvio pelo post, Beirute fica ainda mais interessante depois de assistir o filme Caramel.
E agora, me despeço no melhor estilo libanês: Bonsoir; تصبح على خير.; Good Night!
Hi, kifak, ca va?! A expressao mais famosa do Libano!
ResponderExcluirAdoro o Libano, Beirute me lembra Sao Paulo, suas ruas pequenas, movimentadas, um ar de cidade de verdade, com historia. Ruas com ladeiras, paredes pixadas, postes cheios de fios e cabos.. parece louco, mas eu adoro isso! Haha!
CARAMEL:
Eu adorei a comparacao de "Caramel" com "Sex and the City"! Diria que insightful!
O filme eh excelente, leve, e sai da rotina de guerras e conflitos, e simplesmente aborda a mulher libanesa sendo como qualquer outra mulher no mundo, com suas insegurancas e conflitos pessoais. Ficou faltando seu comentario na trilha sonora, desenvolvida pelo marido de Nadine Labaki, Khaled Mouzanar. Eu particularmente, adoro.
Outro filme libanes que eu adoro, eh West Beirut. O filme aborda sim a guerra e suas consequencias, mas na minha opiniao o filme vai muito mais alem e retrata a vida e descobertas de 3 jovens em Beirute, tentando levar uma adolescencia normal. Recomendo!
Oi Nadya, também adoro o Líbano e também acho parecido com São Paulo. Aliás vou para SP no dia 7 de dezembro.
ResponderExcluirObrigado pela indicação de West Beirut...vou assistir com certeza.